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O coelho e o macaco eram muito amigos.
Um dia, o coelho disse: “Amigo, vamos abrir uma machamba de amendoim”.
“Está bem”, respondeu o macaco.
Havia muita fome na povoação.
Quando começaram a abrir o campo, o macaco ria, saltava, brincava e trabalhava pouco. O coelho tirou o capim, cavou, semeou quase toda a machamba praticamente sozinho.
Chegou a altura da colheita. O coelho tirava o amendoim e punha no saco. O macaco tirava-o e comia imediatamente.
O coelho ficou furioso e resolveu castigar o companheiro porque se continuassem daquela forma, estava a ver que não tiraria qualquer proveito do seu trabalho. Aproveitou então uma altura em que o macaco estava a saborear uma grande quantidade de amendoim e enterrou-lhe a cauda de forma a que não pudesse tirá-la.
Na altura de largar o trabalho, disse o coelho: “Ó amigo macaco, hoje tenho para o jantar amendoim com carne. Aparece”.
O coelho fingiu que tinha muita pressa e foi-se embora logo daí. O macaco tentou também ir embora e viu que estava preso pela cauda.
O macaco gritou chamando por ajuda. Passado algum tempo, apareceu o coelho todo ofegante.
“O que foi, amigo macaco?”
“Tira-me daqui”, pediu o macaco.
O coelho fingiu que o ajudava, fez algum esforço.
De repente, desistiu: “Paciência, amigo macaco, não há nada a fazer, eu tenho pressa, o jantar está à espera. A cauda está muito enterrada, só cortando-a, senão ficas aí toda a noite e nunca se sabe quando é que passa por aqui o leopardo…”
Quando o macaco ouviu o nome do leopardo, pôs-se aos gritos e suplicou ao coelho que lhe cortasse a cauda.
“Prefiro viver sem a cauda do que ser comido…”
Era o que o coelho queria. Cortou-lhe a cauda e levou-a consigo.
Quando chegou em sua casa, coseu-a juntamente com o amendoim que ia oferecer ao macaco. Este, apesar das dores, como era comilão, apresentou-se em casa do coelho para o jantar.
Começou a comer com sofreguidão até verificar que aquela carne não passava da sua própria cauda. Ficou furioso, quis agredir o coelho; este fugiu.
A lamentar-se com as dores, foi-se embora.
Desde esse dia que o macaco e o coelho não cultivam juntos.
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LOURENÇO JOAQUIM DA COSTA ROSÁRIO nasceu em Marromeu, província de Sofala, em 1949, quando Moçambique ainda era uma colônia portuguesa. Quando tinha oito anos de idade, emigrou para Malawi, onde prosseguiu os estudos. Continuou seus estudos em Luabo, na Zambézia. Entre 1970 e 1973, cumpriu o serviço militar sob o regime português. E depois foi para Maputo, onde começou a lecionar na Escola Preparatória do Noroeste. Com a Revolução de 25 de Abril de 1974, foi para Portugal, lecionar em uma Escola Secundária, onde depois da proclamação da Independência foi nomeado presidente do Conselho Diretivo da escola, de 1975 a 1977, sendo transferido para Universidade Eduardo Mondlane (UEM). Era ainda um simples bacharel até 1979. Depois, foi para o Centro 8 de Março, onde foi diretor até 1982. Concluiu a licenciatura (em Línguas e Literaturas Modernas, variante Português/Francês) em Portugal, Lecionou na Universidade Nova de Lisboa. Em 1987, fez doutoramento em Literaturas Africanas, pela Universidade de Coimbra, em Portugal. No ano seguinte, regressa ao país. A convite do Presidente da República, Joaquim Chissano, foi presidente do Fundo Bibliotecário da Língua Portuguesa (FBLP) e criou o Instituto Superior Politécnico e Universitário (ISPU), que hoje chama-se Universidade A Politécnica, uma das maiores instituições privadas de ensino em Moçambique. Lecionou em várias instituições de ensino superior de renome internacional como, Universidade de Hamburgo, na Alemanha; Universidade de Milão, em Itália; Universidade Federal de Minas Gerais, no Brasil; e Universidade Nova de Lisboa. É Reitor da Universidade Politécnica e atualmente preside o Fórum Nacional do Mecanismo Africano de Revisão de Pares (MARP).
Fontes:
Lourenço Joaquim da Costa Rosário. Contos moçambicanos do vale do Zambeze. Moçambique: Editora Texto/Leya, 2001.
Biografia = https://biografia.co.mz/?p=1694
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
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