06 julho 2025

Asas da Poesia * 47 *


Poema de
LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE
Pinhalão/PR

ASPIRAÇÃO
"Ah, beija-me com os beijos
da tua boca." (Ct. 1.2)

Estes lindos olhos teus,
Azuis como o azul do mar,
Poderiam ser só meus...
- Como é bom poder te amar!

Nesta face de menina
Estou sempre a contemplar-te;
Como à sedosa bonina
Bem quisera acariciar-te!

Estes seios convulsivos,
Cheios de amor sem par,
Estão sempre efusivos...
- Quem me dera te abraçar!

Estes lábios - rubra cor,
Continuamente a exalar
Anseios de um grande amor...
- Que delícia te beijar!
= = = = = = = = =  

Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Sonho um mundo onde o respeito 
recupere o seu valor,
e onde o amor pelo direito 
gere o direito do amor.
= = = = = = = = =  

Poema de
PAULO LEMINSKI 
Curitiba, 1944 – 1989

Bem no fundo 

No fundo, no fundo, 
bem lá no fundo, 
a gente gostaria
de ver nossos problemas 
resolvidos por decreto

a partir desta data, 
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula 
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso, 
maldito seja que olhas pra trás, 
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem, 
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear 
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
= = = = = = = = =  

Trova de
AMÁLIA MAX 
Ponta Grossa/PR, 1929 – 2014

Quando nos chegam tardias, 
esperanças sempre são 
aquelas parcas fatias 
de miolo velho... sem pão!
= = = = = = = = =  

Poema de
JOSÉ USAN TORRES BRANDÃO
Senhor do Bonfim/BA, 1929 – 2022

O médico

Entre quatro paredes, seu mundo restrito 
De grandes emoções, suas horas, dia-a-dia 
Aliviar a dor, salvar vidas, está escrito 
Sua missão, um sacerdócio sem hipocrisia.

Marcas do tempo, cedo batem à sua porta 
Esclerose, enfarte, cansaço, depressão
Seu lar, que não é seu ninho, teme sua sorte 
Médico, imagem tão mudada neste mundo cão.

Já não se fala dele como ser superior 
Hoje, nome desgastado, luta pra viver
Como qualquer ser, anônimo, sem valor 
Num mundo de mercado em que mais vale ter.

Médico, operário de Deus, salvando vidas 
Também chora, também ama e também sonha 
Na sua labuta com alma e corpo, suas feridas 
Leva uma existência bem tristonha.

Não é sem luta que ele ganha fama 
Nem é na flor que ele vê espinho 
Num pedestal também joga-se lama 
Médico, não ligues, segue o teu caminho.
= = = = = = = = =  

Trova de
ISTELA MARINA GOTELIPE LIMA 
Bandeirantes/PR 

Velhos sonhos, na lembrança, 
vou mantendo em meu viver 
e nunca perco a esperança 
de que vão acontecer!
= = = = = = = = =  

Poema de
CÍCERO GALENO URROZ LOPES 
Uruguaiana/RS, 1945 – 2017

A gaiola

Que coragem tens ou cruel brutalidade, 
que incauto inocente, pelo alimento, 
condenas à prisão pela vida inteira 
e dele usufruis financeiros resultados?

Ainda ontem pelo verde e pelo azul voava, 
o encanto da vida e o aconchego dos seus 
podia usufruir em plena natureza...
hoje o tens mísero, pequeno e dominado. 

A gaiola o prende em reclusão perpétua,
e há de cantar e olhar a luz e o verde, 
fechado entre grades, ruídos e estranhos;

o silêncio e a cor da mata e dos seus o canto 
serão torturas amargas daqui em frente 
a quem duas asas tinham poder de céu
= = = = = = = = =  

Trova de
JANETE DE AZEVEDO GUERRA 
Bandeirantes/PR

Amor, carinho, esperança... 
marcaram as nossas vidas. 
Hoje, somente lembrança 
nas fotos envelhecidas!
= = = = = = = = =  

Poema de
RODRIGO GARCIA LOPES
Londrina/PR

Na passagem dos céus que fogem de nós

Na imagem das coisas que retornam sem nós, 
Na miragem dessa solidão, você aqui:

Na repetição das antigas sensações 
Na fala a provocar o pensamento 
Parecendo um passado que se dobra 
Sobre esta polpa de presente:

Se a linguagem é nossa realidade 
E coisas forem apenas palavras
Então nos restará apenas a veracidade 
- Esse vácuo que nos acua ao avançar.
= = = = = = = = =  

Trova de
LUCÍLIA A. T. DECARLI 
Bandeirantes/PR

Nas horas tristes, sombrias, 
a esperança é a companheira 
que afugenta as nostalgias
e nos ergue... a vida inteira!
= = = = = = = = =  

Poema de
LOU DE OLIVIER
São Paulo/SP

O tempo e os funerais 

O tempo que tudo apaga 
E a todos arrasta
Que a beleza estraga 
E torna impura a jovem casta...

Esse tempo comanda o vento 
E tudo o que há na natureza
Seca a vida a cada momento 
Deixa a morte como única certeza...

Cada segundo que se vai
Não volta mais em tempo algum 
É sempre o vento que atrai 
E repele sem remorso nenhum...

Família, amor, trabalho
Tudo o que se vive aqui 
O tempo condensa no orvalho 
Resta uma essência a reluzir...

Lágrimas, dores, perdas: 
É sempre igual
Mudam só cenário e personagens 
E assiste o soberano temporal 
A mais uma das últimas viagens...

Da vida então resta nada 
Os mortos viram antepassados 
Só resta uma data comemorada
O tempo anuncia: É dia de finados...
= = = = = = = = =  

Trova de
MARIA FARIAS INOCÊNCIO 
União da Vitória/PR

Mais que ouro, fama, respeito... 
Mais que honraria, abastança, 
é trazer dentro do peito 
simplesmente uma esperança!
= = = = = = = = =  

Poema de
TOBIAS BARRETO
Vila de Campos do Rio Real/SE, 1839 — 1889, Recife/PE

Amar

Amar é fazer o ninho, 
Que duas almas contém, 
Ter medo de estar sozinho, 
Dizer com lágrimas: vem, 
Flor, querida, noiva, esposa... 
Cabemos na mesma lousa... 
Julieta, eu seu Romeu: 
Correr, gritar: onde vamos?
Que luz! que cheiro! onde estamos? 
E ouvir uma voz: no céu!

Vagar em campos floridos 
Que a terra mesma não tem; 
Chegamos loucos, perdidos 
Onde não chega ninguém...
E, ao pé de correntes calmas, 
Que espelham virentes palmas, 
Dizer-te: senta-te aqui;
E além, na margem sombria, 
Ver uma corça bravia, 
Pasmada olhando pra ti!
= = = = = = = = =  

Trova de
MARIA HELENA OLIVEIRA COSTA 
Ponta Grossa/PR

O amor, atrás das vidraças, 
num peito que não se cansa, 
faz descerrar, quando passas, 
as cortinas da esperança...
= = = = = = = = =  

Poema de
CELITO MEDEIROS
Curitiba/PR

A arte e a poesia

Sou sonho de artista realizando 
Da poesia os versos e o encanto 
Como a água da pedra brotando 
A terra cobrirá com seu manto.

Na vida real eu tenho procurado 
Dos traços do pincel um caminho 
As estrofes da poesia d'um lado 
Nas telas encontrar o meu ninho.

Minhas mãos calejadas o brilho 
No movimento criado uma razão 
As cores fortes são meu gatilho 
Disparando toda a minha emoção.

Num tempo distante deste tempo 
Quando maior valor poder existir 
Eu estarei viajando como o vento 
Da minha assinatura poderei rir.

Da dedicação nas artes e poesia 
Toda inspiração gravada ali fica 
Marcar o que na tela não podia 
Na literatura foi uma boa dica.

No silêncio solitário do trabalho 
Das noites de espera da amada 
Querendo sempre mais eu falho 
Como aquele que não fez nada.

Se é interessante minha obra 
Muito de meu tempo dediquei 
Serpenteando traços tal cobra 
Usando a tecnologia eu inovei.

Do que fiz estou bem satisfeito 
Tudo com grande amor e carinho 
Este é o resultado do meu jeito 
Desejando não apreciar sozinho!
= = = = = = = = =  

Trova de
MARIA LÚCIA DALOCE
Bandeirantes/PR

De ilusões eu fui vivendo...
e a esperança, disfarçada, 
via os meus sonhos morrendo, 
mas nunca me disse nada!
= = = = = = = = =  

Poema de 
JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR

Melancolia de Poeta
(Dedicado à amiga e irmã de sonhos, Mara Melinni)

Há na alma do poeta um peso antigo,  
um fardo que o mundo não quer carregar,  
pois ele vê nos olhos de cada amigo  
de quatro patas, o que é amar.  

Ama os cães que correm livres na aurora,  
os gatos que vigiam a noite em vão,  
pássaros que cantam enquanto o tempo chora,  
e até os que habitam a solidão.  

Mas amar é dor, pois o mundo é rude,  
ouve os gritos que o silêncio traz.  
E o poeta em sua melancólica virtude,  
procura se a bondade no homem ainda jaz.  

Oh, doce animal, que não julga nem mente,  
que só pede o pão, um afago, um olhar,  
és a força que o poeta carrega em sua mente,  
quando o resto do mundo insiste em falhar.  

Há na alma do poeta uma ferida aberta,  
um abismo moldado pela compaixão.  
Ele vê a beleza onde a terra é deserta,  
e sente o pulsar do mais frágil coração.  

Cada ave que voa, cada peixe que nada,  
cada olhar de um lobo perdido na serra,  
é um chamado à alma que nunca se apaga,  
é o eco do amor que permeia a terra.  

Mas a melancolia, sombra que o persegue,  
é a certeza cruel que o tempo é voraz,  
que a vida dos que ama é um fio que entregue  
à eternidade que nunca volta atrás.  

E ainda assim, o poeta segue adiante,  
carregando no peito um jardim de esperança,  
pois sabe que a alma, mesmo vacilante,  
se enraiza no amor, que nunca se cansa.  

Ele busca na dor uma força escondida,  
uma chama acesa na escuridão,  
pois quem ama os animais, ama a própria vida,  
e encontra na simplicidade sua redenção.  

Oh, melancolia que molda o poeta,  
que o faz ver o mundo como ninguém,  
tu és a dor que nunca se completa,  
mas também és a alma que o mantém.  

Pois há nos olhos do cão que o espera,  
no cantar do pássaro ao amanhecer,  
uma mensagem que transcende a esfera  
daquilo que o homem pode entender.  

E assim, o poeta, com seu olhar profundo,  
segue amando os seres que o mundo rejeita,  
pois amar os animais é amar o mundo,  
é tocar a pureza que nele se deita.  

Que a melancolia seja então sua guia,  
não como um fardo, mas como razão,  
pois amar é a força que o dia irradia,  
e crava no peito a sua missão.
= = = = = = = = =  

Trova de
VANDA FAGUNDES QUEIROZ 
Curitiba/PR

No meu livro da Lembrança, 
ainda sem conclusão, 
saudade é aquela esperança 
que compôs a introdução...
= = = = = = = = =  

Soneto de
EUCLIDES BANDEIRA 
Curitiba/PR, 1876 – 1947

Ausência

Recresce, arpoante e funda, a saudade cruel. 
Corri ela foi meu sol, partiu minha risada!
Cada dia que passa é uma gota de fel 
que se me infiltra na alma e a põe envenenada.

Mais larga a ausência, mais a lembrança dourada 
resplandece, espertando emoções em tropel: 
o riso, o gesto, a voz; boca a boca soldada, 
os seus beijos febris que eram de fogo e mel…

Claro perfil de luz, louro encanto irradiando 
o revérbero astral de flavescente véu 
que dourava o meu sonho e o verso decadente.

Onde estás? interrogo. E a mágoa cresce quando 
sinto tudo em silêncio em torno. .. O próprio céu 
misterioso e azul, como os olhos da Ausente…
= = = = = = = = =  

Trova de
VÂNIA ENNES 
Curitiba/PR

Saudade vive e contesta, 
me acorda de madrugada, 
faz lembrar-me o fim da festa... 
o beijo... e a noite estrelada! 
= = = = = = = = =  

Poema de
JANSKE NIEMANN SCHLENKER
Curitiba/PR

Um pequeno túmulo

Lá na campina, queria ser flor
para que tua mão me colhesse,
ou ser o capim,
para que pudesses descansar em mim,
ou ser o caminho
por onde voltasses a ser meu,
ou ser um pequeno túmulo
- sem nome e sem data -
á beira da tua estrada
... e só tu saberias onde estou...
= = = = = = = = =  

Trova de
WANDA ROSSI DE CARVALHO 
Bandeirantes/PR, 1920 – 2014

Depois de uma aurora linda, 
sigo o momento que avança 
e, quando a tarde se finda, 
renovo minha esperança!
= = = = = = = = =  

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Asas da Poesia * 47 *

Poema de LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE Pinhalão/PR ASPIRAÇÃO "Ah, beija-me com os beijos da tua boca." (Ct. 1.2) Estes lindos olhos te...