LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE
Pinhalão/PR
ASPIRAÇÃO
"Ah, beija-me com os beijos
da tua boca." (Ct. 1.2)
Estes lindos olhos teus,
Azuis como o azul do mar,
Poderiam ser só meus...
- Como é bom poder te amar!
Nesta face de menina
Estou sempre a contemplar-te;
Como à sedosa bonina
Bem quisera acariciar-te!
Estes seios convulsivos,
Cheios de amor sem par,
Estão sempre efusivos...
- Quem me dera te abraçar!
Estes lábios - rubra cor,
Continuamente a exalar
Anseios de um grande amor...
- Que delícia te beijar!
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Sonho um mundo onde o respeito
recupere o seu valor,
e onde o amor pelo direito
gere o direito do amor.
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Poema de
PAULO LEMINSKI
Curitiba, 1944 – 1989
Bem no fundo
No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
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Trova de
AMÁLIA MAX
Ponta Grossa/PR, 1929 – 2014
Quando nos chegam tardias,
esperanças sempre são
aquelas parcas fatias
de miolo velho... sem pão!
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Poema de
JOSÉ USAN TORRES BRANDÃO
Senhor do Bonfim/BA, 1929 – 2022
O médico
Entre quatro paredes, seu mundo restrito
De grandes emoções, suas horas, dia-a-dia
Aliviar a dor, salvar vidas, está escrito
Sua missão, um sacerdócio sem hipocrisia.
Marcas do tempo, cedo batem à sua porta
Esclerose, enfarte, cansaço, depressão
Seu lar, que não é seu ninho, teme sua sorte
Médico, imagem tão mudada neste mundo cão.
Já não se fala dele como ser superior
Hoje, nome desgastado, luta pra viver
Como qualquer ser, anônimo, sem valor
Num mundo de mercado em que mais vale ter.
Médico, operário de Deus, salvando vidas
Também chora, também ama e também sonha
Na sua labuta com alma e corpo, suas feridas
Leva uma existência bem tristonha.
Não é sem luta que ele ganha fama
Nem é na flor que ele vê espinho
Num pedestal também joga-se lama
Médico, não ligues, segue o teu caminho.
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Trova de
ISTELA MARINA GOTELIPE LIMA
Bandeirantes/PR
Velhos sonhos, na lembrança,
vou mantendo em meu viver
e nunca perco a esperança
de que vão acontecer!
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Poema de
CÍCERO GALENO URROZ LOPES
Uruguaiana/RS, 1945 – 2017
A gaiola
Que coragem tens ou cruel brutalidade,
que incauto inocente, pelo alimento,
condenas à prisão pela vida inteira
e dele usufruis financeiros resultados?
Ainda ontem pelo verde e pelo azul voava,
o encanto da vida e o aconchego dos seus
podia usufruir em plena natureza...
hoje o tens mísero, pequeno e dominado.
A gaiola o prende em reclusão perpétua,
e há de cantar e olhar a luz e o verde,
fechado entre grades, ruídos e estranhos;
o silêncio e a cor da mata e dos seus o canto
serão torturas amargas daqui em frente
a quem duas asas tinham poder de céu
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Trova de
JANETE DE AZEVEDO GUERRA
Bandeirantes/PR
Amor, carinho, esperança...
marcaram as nossas vidas.
Hoje, somente lembrança
nas fotos envelhecidas!
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Poema de
RODRIGO GARCIA LOPES
Londrina/PR
Na passagem dos céus que fogem de nós
Na imagem das coisas que retornam sem nós,
Na miragem dessa solidão, você aqui:
Na repetição das antigas sensações
Na fala a provocar o pensamento
Parecendo um passado que se dobra
Sobre esta polpa de presente:
Se a linguagem é nossa realidade
E coisas forem apenas palavras
Então nos restará apenas a veracidade
- Esse vácuo que nos acua ao avançar.
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Trova de
LUCÍLIA A. T. DECARLI
Bandeirantes/PR
Nas horas tristes, sombrias,
a esperança é a companheira
que afugenta as nostalgias
e nos ergue... a vida inteira!
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Poema de
LOU DE OLIVIER
São Paulo/SP
O tempo e os funerais
O tempo que tudo apaga
E a todos arrasta
Que a beleza estraga
E torna impura a jovem casta...
Esse tempo comanda o vento
E tudo o que há na natureza
Seca a vida a cada momento
Deixa a morte como única certeza...
Cada segundo que se vai
Não volta mais em tempo algum
É sempre o vento que atrai
E repele sem remorso nenhum...
Família, amor, trabalho
Tudo o que se vive aqui
O tempo condensa no orvalho
Resta uma essência a reluzir...
Lágrimas, dores, perdas:
É sempre igual
Mudam só cenário e personagens
E assiste o soberano temporal
A mais uma das últimas viagens...
Da vida então resta nada
Os mortos viram antepassados
Só resta uma data comemorada
O tempo anuncia: É dia de finados...
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Trova de
MARIA FARIAS INOCÊNCIO
União da Vitória/PR
Mais que ouro, fama, respeito...
Mais que honraria, abastança,
é trazer dentro do peito
simplesmente uma esperança!
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Poema de
TOBIAS BARRETO
Vila de Campos do Rio Real/SE, 1839 — 1889, Recife/PE
Amar
Amar é fazer o ninho,
Que duas almas contém,
Ter medo de estar sozinho,
Dizer com lágrimas: vem,
Flor, querida, noiva, esposa...
Cabemos na mesma lousa...
Julieta, eu seu Romeu:
Correr, gritar: onde vamos?
Que luz! que cheiro! onde estamos?
E ouvir uma voz: no céu!
Vagar em campos floridos
Que a terra mesma não tem;
Chegamos loucos, perdidos
Onde não chega ninguém...
E, ao pé de correntes calmas,
Que espelham virentes palmas,
Dizer-te: senta-te aqui;
E além, na margem sombria,
Ver uma corça bravia,
Pasmada olhando pra ti!
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Trova de
MARIA HELENA OLIVEIRA COSTA
Ponta Grossa/PR
O amor, atrás das vidraças,
num peito que não se cansa,
faz descerrar, quando passas,
as cortinas da esperança...
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Poema de
CELITO MEDEIROS
Curitiba/PR
A arte e a poesia
Sou sonho de artista realizando
Da poesia os versos e o encanto
Como a água da pedra brotando
A terra cobrirá com seu manto.
Na vida real eu tenho procurado
Dos traços do pincel um caminho
As estrofes da poesia d'um lado
Nas telas encontrar o meu ninho.
Minhas mãos calejadas o brilho
No movimento criado uma razão
As cores fortes são meu gatilho
Disparando toda a minha emoção.
Num tempo distante deste tempo
Quando maior valor poder existir
Eu estarei viajando como o vento
Da minha assinatura poderei rir.
Da dedicação nas artes e poesia
Toda inspiração gravada ali fica
Marcar o que na tela não podia
Na literatura foi uma boa dica.
No silêncio solitário do trabalho
Das noites de espera da amada
Querendo sempre mais eu falho
Como aquele que não fez nada.
Se é interessante minha obra
Muito de meu tempo dediquei
Serpenteando traços tal cobra
Usando a tecnologia eu inovei.
Do que fiz estou bem satisfeito
Tudo com grande amor e carinho
Este é o resultado do meu jeito
Desejando não apreciar sozinho!
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Trova de
MARIA LÚCIA DALOCE
Bandeirantes/PR
De ilusões eu fui vivendo...
e a esperança, disfarçada,
via os meus sonhos morrendo,
mas nunca me disse nada!
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Poema de
JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR
Melancolia de Poeta
(Dedicado à amiga e irmã de sonhos, Mara Melinni)
Há na alma do poeta um peso antigo,
um fardo que o mundo não quer carregar,
pois ele vê nos olhos de cada amigo
de quatro patas, o que é amar.
Ama os cães que correm livres na aurora,
os gatos que vigiam a noite em vão,
pássaros que cantam enquanto o tempo chora,
e até os que habitam a solidão.
Mas amar é dor, pois o mundo é rude,
ouve os gritos que o silêncio traz.
E o poeta em sua melancólica virtude,
procura se a bondade no homem ainda jaz.
Oh, doce animal, que não julga nem mente,
que só pede o pão, um afago, um olhar,
és a força que o poeta carrega em sua mente,
quando o resto do mundo insiste em falhar.
Há na alma do poeta uma ferida aberta,
um abismo moldado pela compaixão.
Ele vê a beleza onde a terra é deserta,
e sente o pulsar do mais frágil coração.
Cada ave que voa, cada peixe que nada,
cada olhar de um lobo perdido na serra,
é um chamado à alma que nunca se apaga,
é o eco do amor que permeia a terra.
Mas a melancolia, sombra que o persegue,
é a certeza cruel que o tempo é voraz,
que a vida dos que ama é um fio que entregue
à eternidade que nunca volta atrás.
E ainda assim, o poeta segue adiante,
carregando no peito um jardim de esperança,
pois sabe que a alma, mesmo vacilante,
se enraiza no amor, que nunca se cansa.
Ele busca na dor uma força escondida,
uma chama acesa na escuridão,
pois quem ama os animais, ama a própria vida,
e encontra na simplicidade sua redenção.
Oh, melancolia que molda o poeta,
que o faz ver o mundo como ninguém,
tu és a dor que nunca se completa,
mas também és a alma que o mantém.
Pois há nos olhos do cão que o espera,
no cantar do pássaro ao amanhecer,
uma mensagem que transcende a esfera
daquilo que o homem pode entender.
E assim, o poeta, com seu olhar profundo,
segue amando os seres que o mundo rejeita,
pois amar os animais é amar o mundo,
é tocar a pureza que nele se deita.
Que a melancolia seja então sua guia,
não como um fardo, mas como razão,
pois amar é a força que o dia irradia,
e crava no peito a sua missão.
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Trova de
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR
No meu livro da Lembrança,
ainda sem conclusão,
saudade é aquela esperança
que compôs a introdução...
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Soneto de
EUCLIDES BANDEIRA
Curitiba/PR, 1876 – 1947
Ausência
Recresce, arpoante e funda, a saudade cruel.
Corri ela foi meu sol, partiu minha risada!
Cada dia que passa é uma gota de fel
que se me infiltra na alma e a põe envenenada.
Mais larga a ausência, mais a lembrança dourada
resplandece, espertando emoções em tropel:
o riso, o gesto, a voz; boca a boca soldada,
os seus beijos febris que eram de fogo e mel…
Claro perfil de luz, louro encanto irradiando
o revérbero astral de flavescente véu
que dourava o meu sonho e o verso decadente.
Onde estás? interrogo. E a mágoa cresce quando
sinto tudo em silêncio em torno. .. O próprio céu
misterioso e azul, como os olhos da Ausente…
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Trova de
VÂNIA ENNES
Curitiba/PR
Saudade vive e contesta,
me acorda de madrugada,
faz lembrar-me o fim da festa...
o beijo... e a noite estrelada!
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Poema de
JANSKE NIEMANN SCHLENKER
Curitiba/PR
Um pequeno túmulo
Lá na campina, queria ser flor
para que tua mão me colhesse,
ou ser o capim,
para que pudesses descansar em mim,
ou ser o caminho
por onde voltasses a ser meu,
ou ser um pequeno túmulo
- sem nome e sem data -
á beira da tua estrada
... e só tu saberias onde estou...
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Trova de
WANDA ROSSI DE CARVALHO
Bandeirantes/PR, 1920 – 2014
Depois de uma aurora linda,
sigo o momento que avança
e, quando a tarde se finda,
renovo minha esperança!
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