10 maio 2025

Mensagem na Garrafa 003 (José Feldman) Às Mães de Pets


JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR

Às Mães de Pets

No Dia das Mães, celebra-se um amor que transcende a biologia, refletindo a dedicação das mulheres que cuidam de seus pets, sejam gatos ou cachorros. Ser mãe de um animal é uma jornada rica em emoções, repleta de desafios e alegrias que aquecem o coração.

A história começa no momento em que um olhar tímido e esperançoso se encontra com o nosso. Muitos adotam filhotes abandonados, com olhos brilhantes e tristes. Ao trazê-los para casa, não se tem a noção de que um novo companheiro mudará a vida para sempre. A partir desse instante, cada dia se transforma em uma nova aventura.

Os cuidados com os pets tornam-se uma rotina sagrada. As refeições, os passeios e as idas ao veterinário fazem parte de um compromisso assumido. As noites em claro surgem, especialmente quando eles adoecem pela primeira vez. A angústia de ouvir gemidos ou ver a falta de energia faz parecer que o mundo está desmoronando. Cada transporte ao veterinário é carregado de esperança e medo, mas a certeza de que é necessário estar ao lado deles, segurando suas patinhas e sussurrando palavras de conforto, é inabalável.

Ser mãe de um pet é viver uma montanha-russa de emoções. As preocupações nunca abandonam o coração. Cada pequeno machucado ou queda é um lembrete da vulnerabilidade deles, e a tristeza sentida em suas dores é profunda. Porém, mesmo em momentos difíceis, o amor que transmitem é incondicional. Um olhar ou um toque suave do focinho pode iluminar até os dias mais sombrios. É nesse carinho que se encontra força e alegria.

A batalha diária é real. Entre trabalho, responsabilidades e a necessidade de dar atenção aos pets, muitas se perguntam como equilibrar tudo. A resposta é simples: é o amor. Aqueles momentos em que os animais se aconchegam no sofá ou fazem travessuras para arrancar risadas são recompensas que não têm preço. Eles são como crianças, sempre alegres e travessos, e mesmo quando aprontam, o perdão flui naturalmente.

Esses animais preenchem vazios que, muitas vezes, não se sabia que existiam. Eles entram nas vidas como se fossem enviados por Deus, acompanhando em momentos de solidão e tristeza. Seus olhares sinceros e sua lealdade ensinam lições valiosas sobre amor e resiliência. Mesmo sendo seres limitados, tornam-se professores, mostrando a beleza do presente e a alegria nas pequenas coisas.

Quando chega a hora de dizer adeus, a dor é insuportável. A perda de um pet deixa um vazio que parece não ter fim. O luto é profundo, e a saudade se transforma em uma sombra constante. Mas, mesmo na tristeza, há gratidão por todo momento vivido, por todo riso compartilhado e por todo amor recebido. As memórias se tornam tesouros guardados no coração.

Todos dias é Dia das Mães, e celebra-se não apenas o amor materno, mas também a conexão única que se tem com os pets. Cada carinho, cada cuidado e cada lágrima derramada fazem parte de uma história de amor que vale a pena ser contada. Porque ser mãe de um pet é, acima de tudo, uma experiência transformadora que ensina a amar de maneira mais profunda e verdadeira. E, enquanto eles estiverem ao lado, é inegável que se é, de fato, MÃE.

Asas da Poesia * 25 *


Trova de
LUÍZA NELMA FILLUS
Irati/PR

Singela festa de outrora,
olhos puros de criança,
vem-me lágrimas agora,
com essa doce lembrança.
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Poema de
MACHADO DE ASSIS 
Rio de Janeiro/RJ, 1839 – 1908

Spinoza

Gosto de ver-te, grave e solitário,
Sob o fumo de esquálida candeia,
Nas mãos a ferramenta de operário,
E na cabeça a coruscante ideia.

E enquanto o pensamento delineia
Uma filosofia, o pão diário
A tua mão a labutar granjeia
E achas na independência o teu salário.

Soem cá fora agitações e lutas,
Sibile o bafo aspérrimo do inverno,
Tu trabalhas, tu pensas, e executas

Sóbrio, tranquilo, desvelado e terno,
A lei comum, e morres, e transmutas
O suado labor no prêmio eterno.
= = = = = = = = =  

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Há um encanto na melancolia

E a chuva continua...
Do vidro do carro
Observo a
A paisagem líquida
Que em tons de verde e cinza
Passa depressa...
Há um encanto na melancolia,
Dividindo o cristal da taça
Fazendo-me companhia
Nesta tua ausência,
E, na lembrança dos teus beijos
Com gosto e aroma do chá de morangos
Despedindo-se aos poucos,
Há um encanto na melancolia
Que dilacera a alma,
Repleta de uma saudade,
Das tuas poesias,
E mensagens de amor
Que, ainda navegam  em imagens
De sonhos...
Há um encanto na melancolia
Qual uma tela com pontilhismo,
Pincelando em  meu coração
Um amor tão intenso e impossível,
Repleto de inquietos e alegres
Pontinhos de cores,
Ah, a melancolia encanta-se
Com esse lento passar das horas,
Em que a imobilidade dos sinos de vento
E a ponta quebrada do lápis
Adiam um ponto final
= = = = = = 

Poetrix de
FÁBIO ROCHA
Rio de Janeiro/RJ

presas na boca

as pessoas fingem certezas.
certamente
estão presas
= = = = = = 

Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Eu pintava trezentos arco-íris
(Mário Quintana, in “Rua dos Cataventos”)

Pintaria trezentos arco-íris
No céu de chumbo desse teu futuro
Para que ele não fosse tão escuro
E alegre com a sorte, tu te rires.

É tempo de a tristeza despedires
De veres o que está além do muro
E que o teu sol rebrilhe, grande e puro
Para que à luz te vejas e te admires.

A chuva misturada com o pranto
Vai, da alma, lavar o desencanto
Que em dias já passados tu tiveste.

Enfrenta cada dia sem temer
Que a vida só te paga com prazer
Aquilo que primeiro tu lhe deste.
= = = = = = = = = 

Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Na taça de cada dia, 
a transbordar de amargura, 
cai um pingo de alegria, 
e o fel se torna doçura. 
= = = = = = 

Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

A voz do amor

Nessa pupila rútila e molhada,
Refúgio arcano e sacro da Ternura,
A ampla noite do gozo e da loucura
Se desenrola, quente e embalsamada.

E quando a ansiosa vista desvairada
Embebo às vezes nessa noite escura,
Dela rompe uma voz, que, entrecortada
De soluços e cânticos, murmura...

É a voz do Amor, que, em teu olhar falando,
Num concerto de súplicas e gritos
Conta a história de todos os amores;

E vêm por ela, rindo e blasfemando,
Almas serenas, corações aflitos,
Tempestades de lágrimas e flores...
= = = = = = 

Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

Com minha alma amargurada, 
envolto em meu sofrimento, 
passo inteira a madrugada 
jogando versos ao vento…
= = = = = = 

Poema de
JAQUELINE MACHADO
Cachoeira do Sul/RS

A beleza de ser

A beleza de ser,
está na magia de saber sentir...
É no mundo real das coisas não vistas,
mas sentidas, que as belezas ou riquezas são manifestadas.
Amor, caridade, riso, arte, prece,
são manifestações capazes de enaltecer
o encanto desta raça chamada “gente”.
Ou seja, beleza é algo que nasce de dentro para fora.
E não de fora para dentro.
Embora isso também possa acontecer.
Autenticidade é algo raro. E caro.
Tão caro que não tem preço.
Não se importe com o que os outros falam
sobre atitudes sentimentais.
Sinta amor...
Seja belo sendo sentimento.
E não razão.
= = = = = = 

Haicai de
GUILHERME DE ALMEIDA
Campinas/SP 1890 – 1969 São Paulo/SP

Mocidade

Do beiral da casa
(telhas novas, vermelhas!)
vai-se embora uma asa.
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Soneto de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS

Este quarto... 
(para Guilhermino César)

Este quarto de enfermo, tão deserto
de tudo, pois nem livros eu já leio
e a própria vida eu a deixei no meio
como um romance que ficasse aberto...

que me importa este quarto, em que desperto
como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu! imensamente perto,
o céu que me descansa como um seio.

Pois só o céu é que está perto, sim,
tão perto e tão amigo que parece
um grande olhar azul pousado em mim.

A morte deveria ser assim:
um céu que pouco a pouco anoitecesse
e a gente nem soubesse que era o fim...
= = = = = = 

Hino de 
ANTONINA/ PR

Salve terra formosa e querida 
Que se estende na costa a sorrir 
Terra calma onde achamos à vida 
Sob a qual esperamos dormir 

Salve terra de brisas ciciantes, 
Doce gleba que nos viu nascer
Não te esqueças teus filhos distantes, 
Esquecer-te é mais fácil morrer.

Estribilho

Antonina, Antonina, 
Deitada a beira do mar 
Sob a tutela divina 
Da Senhora do Pilar 

Antonina, cidade das flores, 
De suave e finíssimo olor
Tens o brilho de mil esplendores 
Para nós que te damos amor 

Salve gleba, fecunda cidade 
Mais augusta por certo acharás 
Deus te encha de felicidade 
Para a glória do meu Paraná 

Antonina, Antonina,
Deitada a beira do mar 
Sob a tutela divina 
Da Senhora do Pilar
= = = = = = = = =  

Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

Festas vespertinas

Nas vespertinas festas, nos domingos,
Quando eu queria muito o teu amor,
Dancei gostoso rock, joguei bingos,
Te esperando namoro me propor.

Dançávamos bolero, ou mesmo tango,
E ao som daquele rock fui dançando...
Para o salão sozinha, e então eu mango
Do teu jeito sem graça rebolando.

Até que um dia escuto teu lamento,
Porque não poderias nem me ver
Assim, me divertindo em tal evento.

Eu era adolescente e bem feliz,
Nas vespertinas festas pude ter
A tua companhia enquanto quis.
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Trova de
CLÁUDIO DE CÁPUA
São Paulo/ SP, 1945 – 2021, Santos/ SP

Sou poeta e trovador, 
a inspiração me transporta 
às nuvens e, com amor, 
nas nuvens minha alma aporta.
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Uma Lengalenga de Portugal
BICHO DA CONTA
 
Estas lengalengas dirigidas a insetos, eram ensinadas ás crianças para elas dizerem quando encontravam um deles nos campos. Era uma maneira de as ensinar a ter respeito pela natureza.
 
Debaixo da pedra
 Mora um bichinho
 De corpo cinzento
Muito redondinho
 
Tem medo do sol
Tem medo de andar
Bichinho de conta
Não sabe contar
 
Muito redondinho
Rebola, no chão
Rebola, na erva
E na minha mão
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Quadra Popular de
Serro/ MG

O vento bateu na porta
eu pensei que era a Sinhana,
tive pena de mim mesmo!
Até o vento me engana.
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Soneto de
AFONSO FELIX DE SOUSA
Jaraguá/GO, 1925– 2002, Rio de Janeiro/RJ

Sonetos Elementares XV

E Deus chamou à luz dia; e às trevas
chamou noite: o primeiro dia, feito
de elementos de mortos dias, dia
de madrugadas feito – assim nascera.

Embora com o corpo a debater-se
na sombra anterior, perdi-me ao canto
das aves primitivas, e boiei
entre espumas e o espírito de Deus.

Flores mortas brotaram e eram belas.
A terra toda se transfigurara
nessas ilhas de que só nós sabemos.

Cego sem céu e mar que de repente
recupera as paisagens, segui leve
como um louco cantando entre anjos.
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Poema de
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Boêmio

Boêmio – em turbilhão intenso a vida esbanjas,
escravo de emoções em noites deturpadas.
Teu sol, luz de abajur, a arder envolto em franjas,
tem o álgido livor das frias madrugadas.

Volúvel, novo amor te aguarda em cada esquina,
e insatisfeito vai teu coração repleto
dessa ânsia de viver, que arrasta, que fascina,
alheio à paz de um lar, à placidez de um teto!

Boêmio, a mocidade é curta… logo passa!
A seara, quando má, provém de mau plantio!
Apressa-se o amanhã… o nada te ameaça
e a solidão abraça o coração vazio!
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Trova do
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

De barro se faz o homem, 
e de luz principalmente. 
O barro, os anos consomem; 
a luz eterniza a gente!
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Décima do
NEMÉSIO PRATA
Fortaleza/CE

Solidariedade!

Oh! Deus meu, que estás no céu,
diga-me, qual o destino
desta menina (ou menino!),
que vive jogada ao léu
sem solado e sem chapéu?
Que Tu me dês, de verdade,
um pingo de caridade
pra que eu leve à esta criança
uma nesga de esperança.
Isto é: Solidariedade!
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Trova de
OLÍVIA ALVAREZ MIGUEZ BARROSO
Parede/Portugal

Quando a esperança se alia
ao conceito de beleza,
há folhas de poesia
a pairar na natureza.
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Soneto do
ADELMAR TAVARES
Recife/PE, 1888 – 1963, Rio de Janeiro/RJ

Francisco, meu pai

Como que o vejo... O chapelão caído
Sobre a cabeça branca de algodão...
Buscando o campo, — o dia mal nascido,
Voltando à casa, o dia em escuridão.

Lavrador, fez da terra o ideal querido.
"Meu filho, a terra é que nos dá o pão",
Dizia-me. E cavava comovido,
A várzea aberta para a plantação...

Mas um dia, eu, pequeno, vi, cavando,
Sete palmos de campo, soluçando,
Uns homens rudes... Tempo que já vai!

"Francisco, adeus"! Diziam repetindo.
Meu pai desceu de branco... Ia dormindo
Fechou-se a terra... E não vi mais meu pai!
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Trova Premiada em Natal/RN, 2009 
RODOLPHO ABBUD 
Nova Friburgo/RJ, 1926 – 2013

A violência e outras formas 
de opressão, mesmo discretas, 
não conseguem ditar normas 
aos corações dos poetas! 
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Gabinete de
OTACÍLIO BATISTA
(Otacílio Guedes Patriota)
São José do Egito/PE, 1923 – 2003, João Pessoa/PB

O povo deseja ouvir
     Um Gabinete bonito;
     Poeta, só acredito
     Se você não me mentir.
     Trate de se prevenir
     Para poder cantar bem
     Eu comprei um cartão
     Para viajar no trem:
     Sem cartão ninguém vai,
     Sem cartão ninguém vem!
     Vai e vem, vem e vai,
     Vem e vai, vai e vem.
     Quem não tem o que eu tenho,
     Morre danado e não tem!
     Quem estiver com inveja,
     Se esforce e faça também ...
     Cavalo bom é ginete;
     Quem não canta Gabinete,
     Não é cantor pra ninguém!
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Trova do
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ

Que trovador desastrado!
… foi direto pro doutor:
Fiz trova de pé quebrado!
Bota um gesso, por favor!
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Soneto de
SÍLVIA ARAÚJO MOTTA
Belo Horizonte/MG

Sol com chuva

No adágio popular ouvi dizer
que quando há sol com chuva...alguém sorriu!
Na despedida vi “viúva” a crer:
-“Marido vivo” em paz, feliz, fugiu...

Mulher tão forte, em tudo, quis vencer!
Enxugou o pranto, teve fé, agiu!
Criou seus filhos, graças viu chover!
Pingos lavaram “alma pura à mil...”

Com seu poder de sol viveu, brilhou...
Sempre enfrentou problemas, mas sorria!
Buscou o saber, destino então traçou.

Chove amizade... só por seu valor!
Ao ritmo dança, canta e faz poesia!
Molhada agora, beija o novo amor.
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Haicai de
ANALICE FEITOZA DE LIMA 
Bom Conselho/PE, 1938 – 2012, São Paulo/SP

Uma água barrenta,
pássaros sobre o barranco.
Um rio minguante.
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Poema de
ALICE GOMES
Tabuaço/Portugal, 1910 – 1983, Lisboa/Portugal

Na idade dos porquês 

Professor diz-me porquê?
Por que voa o papagaio
que solto no ar
que vejo voar
tão alto no vento
que o meu pensamento
não pode alcançar?

Professor diz-me porquê?
Por que roda o meu pião?
Ele não tem nenhuma roda
E roda, gira, rodopia
e cai morto no chão...

Tenho nove anos, professor
e há tanto  mistério à minha roda
que eu queria desvendar!
Por que é que o céu é azul?
Por que é que marulha o mar?
Porquê?
Tanto porquê que eu queria saber!
E tu que não me queres responder!

Tu falas, falas, professor
daquilo que te interessa
e que a mim não interessa.
Tu obrigas-me a ouvir
quando eu quero falar.
Obrigas-me a dizer
quando eu quero escutar.
Se eu vou a descobrir
Fazes-me decorar.

É a luta, professor
a luta em vez de amor.

Eu sou uma criança.
Tu és mais alto
mais forte
mais poderoso.
E a minha lança
quebra-se de encontro à tua muralha.

Mas
enquanto a tua voz zangada ralha
tu sabes, professor
eu fecho-me por dentro
faço uma cara resignada
e finjo
finjo que não penso em nada.

Mas penso.
Penso em como era engraçada
aquela rã
que esta manhã ouvi coaxar.
Que graça que tinha
aquela andorinha
que ontem à tarde vi passar!...

E quando tu depois vens definir
o que são conjunções
e preposições...
quando me fazes repetir
que os corações
têm duas aurículas e dois ventrículos
e tantas
tanta mais definições...
o meu coração
o meu coração que não sei como é feito
nem quero saber
cresce
cresce dentro do peito
a querer saltar cá para fora
professor
a ver se tu assim compreenderias
e me farias
mais belos os dias.
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Trova de
LUCÍLIA A. T. DECARLI
Bandeirantes/PR

Aquela alegre canção,
que, outrora, era de nós dois,
traz, hoje, triste emoção
na solidão de um depois…
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Poema do
J. G. DE ARAÚJO JORGE
(Jorge Guilherme de Araújo Jorge)
Tarauacá/AC 1914 – 1987 Rio de Janeiro/RJ

Poema às palavras 

 Tem uns homens por aí
com medo das palavras.

Tem uns poetas por aí
segregacionistas.

Tem preconceitos contra
as palavras:
esta não serve - é mestiça,
esta também não - é muito comum,
é do povo, não é importante,
e aquela também - não tem educação
fala muito alto, é palavrão.

Tem poeta por aí cochichando
como gente muito fina
de salão,
falando entre dentes
perpetrando futilidades
e maldades, como comadres.

Tem uns homens por ai
tratando as palavras pela cor
de sua pele:
não cruzam com as palavras, negras
amarelas, mulatas,
só fazem poemas brancos, poemas
puros, poemas arianos, poemas de raça.

Que se danem! Faço filhos
com todas as palavras
basta que elas se entreguem, e me amem
e saiam com o meu verso, à rua
para cantar.
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Quadra Popular
AUTOR ANÔNIMO

Coração entristecido,
por que tanto te magoas?
Se estás cercado de penas,
o que fazes que não voas?
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Antonio Brás Constante (Zero a Esquerda ou Fora de Série?)


“Ninguém cometeu maior erro, do que aquele que errou ao fazer tudo errado”. Antonio Brás Constante

Números. Números. Números. Não passamos de um conjunto numérico, perdido em uma equação qualquer. Uma equação ainda não totalmente resolvida, conhecida como vida. O ser humano na sua essência é feito de números. Somos compostos orgânicos com bilhões de células disto, sei lá mais quantos bilhões de outras células formando aquilo, etc.

Os números determinam padrões na sociedade. Somos classificados por um número variável chamado: “idade”, e nos dizem que devemos agir conforme esta idade. Ou seja, em alguns casos somos muito velhos, em outros nos acham muito novos e ainda em outros temos a idade certa, mesmo que seja para algo que naquele momento não nos interessa.

Apesar de não nos darmos conta, nós somos geralmente atraídos pelos números que compõe as outras pessoas. Por exemplo, na busca por relacionamentos amorosos, muitos procuram saber sobre a altura, peso, quadril, busto, idade e até conta bancária de seus pretendentes.

Ainda na parte dos relacionamentos, podemos imaginar a seguinte situação: você sai para passear com sua amada. Resolve levá-la a um lugar especial, onde possam namorar, trocando beijos e carícias. Então você, aproveitando aquele momento lindo, totalmente enlouquecido de amor, dá uma, duas, três, até quatro idéias de como o futuro seria maravilhoso se vocês ficassem juntos para sempre. É a matemática do amor, agindo nos pensamentos do enamorados.

Também no trabalho somos um mero número, conhecidos no sistema como o funcionário de matricula tal, que tem o RG tal e o CPF etecétera e tal. Em qualquer novo plano diretor, onde haja necessidade de cortes para maximizar custos, o fator humano é logo substituído por algum índice matemático, e de um instante para outro passamos de nove para seis, ou seja, nossa vida vira de cabeça para baixo.

A própria empresa é um emaranhado de números, que aparentemente parece ser feita de tijolos e movida através de carne e sangue, mas que no fim de cada semestre passa a ser um relatório contábil repleto de números e indicações positivas ou negativas, traçando geralmente perfis pouco amistosos sobre ações futuras.

Um assunto como este pode até causar insônia, algo que tentamos amenizar contando carneirinhos lanosos, que para desespero de qualquer fazendeiro, conseguem pular cercas com extrema facilidade. Em outros casos apenas contamos com algum tipo de calmante. Então percebemos que nossa saúde também é vista através de números, que medem pressão, batimentos cardíacos, taxa de glicose, entre outros tantos pontos que flutuam em nossos exames. Se notarmos, a própria política começa com a escolha de números, onde muitos se elegem apenas para fazer número e, principalmente, desviar números.

Sua classe social, sua localização em sua rua ou mesmo no universo (latitude e longitude), ou o máximo de caracteres que devo digitar neste texto, tudo é formado por números. Podemos dizer que Deus é um número. Talvez o número mais básico que exista e por isso tão complexo. Algo similar ao computador, que é capaz de efetuar maravilhas, feitas a partir da combinação de dois únicos dígitos (0s e 1s) que formam o código binário.

Enfim, na matemática da vida, não devemos ser apenas mais um número. Devemos somar esforços, dividir os problemas na busca de soluções, subtrair pensamentos negativos, e elevar a enésima potência às energias e ações positivas, passando a ser multiplicadores de algo melhor, deixando de ser um zero a esquerda para nos tornamos pessoas fora de série.
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Antonio Brás Constante é natural de Porto Alegre. Residente em Canoas RS. Bacharel em computação, bancário e cronista de coração, escreve com naturalidade, descontraída e espontaneamente, sobre suas ideias, seus pontos de vista, sobre o panorama que se descortina diferente a cada instante, a nossa frente: a vida. Membro da ACE (Associação Canoense de Escritores).

Fontes: 
http://www.recantodasletras.com.br/autores/abrasc
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

Asas da Poesia * 46 *

Poema de LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE Pinhalão/PR Tuas Mãos "Tua mão esquerda está sob minha cabeça, e tua direita abraça-me " (Ct.8....