25 abril 2025

Asas da Poesia * 17 *


Trova de
ARTHUR THOMAZ
Campinas/SP

Toda vez que me chamares, 
eu, desgarrado veleiro, 
singrarei todos os mares 
buscando teu paradeiro…
= = = = = =

Soneto de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Uma vez um anjo apaixonou-se
(Manuel Antonio Pina in "Todas as Palavras - Poesia Reunida (1974-2011)", p. 52)

Uma vez um lindo anjo apaixonou-se
Ao fim de tantas viagens siderais
Por essa estrela que brilhava mais
E tinha a luz mais forte, quente e doce.

A vida rotineira alvoroçou-se
Começou a sofrer como os mortais
E nas vivas palpitações carnais
A sua alma errou e enredou-se.

Mas no reino sem fim desses espaços
Não se permitem beijos nem abraços
Entre vidas, assim, tão diferentes.

Recusando esse amor sem união
À beira do vazio dão a mão
E no céu fazem dois traços cadentes...
= = = = = = = = =  

Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Ó lua que vais tão alta 
Redonda como um tamanco! 
Ó Maria traz a escada 
Que não chego lá co’o banco! 
= = = = = = = = = = 

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Monjolo

A madeira antiga
Dilui-se com a passagem
Do tempo, tempo
Que afaga teus contornos...
A madeira antiga
Resiste e ainda
Insiste, em sobreviver,
Mesmo com a ausência das águas,
Mantém vivo
O som distante
E repetitivo.
Do teu cadenciado toque...
= = = = = = 

Trova de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

– Depressa!… A bolsa ou a vida.
– Mas, que sufoco, senhor!…
Diz a livreira polida.
– Não sabe o nome do autor?
= = = = = = = = =  

Poema de
ELISA ALDERANI
Ribeirão Preto/SP

Rei

Onde está meu rei?
Saiu do palácio…
Ele se foi.
Tudo ficou sem graça…
Mas não levou
Nem se quer uma taça.

Só os sonhos dele.
 
O trono ficou vazio
O resto ficou no mesmo lugar.
O tempo passou, esperei…
O rei não voltou,
Ninguém pegou seu lugar.

No trono agora,
Acredite se quiser,
Senta-se a poesia.

Ela sabe reinar.

Conduzir minha vida,
E, continuar a sonhar!
= = = = = = = = = 

Aldravia do
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ

No
inefável
riso
chapliniano
lírica
tristeza
= = = = = = = = =  

Poema de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

Sonho

Quantas vezes, em sonho, as asas da saudade
Solto para onde estás, e fico de ti perto!
Como, depois do sonho, é triste a realidade!
Como tudo, sem ti, fica depois deserto!

Sonho... Minha alma voa. O ar gorjeia e soluça.
Noite... A amplidão se estende, iluminada e calma:
De cada estrela de ouro um anjo se debruça,
E abre o olhar espantado, ao ver passar minha alma.

Há por tudo a alegria e o rumor de um noivado.
Em torno a cada ninho anda bailando uma asa.
E, como sobre um leito um alvo cortinado,
Alva, a luz do luar cai sobre a tua casa.

Porém, subitamente, um relâmpago corta
Todo o espaço... O rumor de um salmo se levanta
E, sorrindo, serena, aparecer à porta,
Como numa moldura a imagem de uma Santa...
= = = = = = 

Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

Nos poemas que componho, 
de beleza quase extrema, 
eu ponho em verdade um sonho 
dentro de cada poema!
= = = = = = 

Poema de 
JOSÉ FARIA NUNES
Caçu/GO

Oração do educador

Inspirai-me
oh! Mestre dos Mestres
para que o mister a que me proponho
ilumine as mentes a mim confiadas
nessa jornada. Dai-me sabedoria
Oh mestre, para que mais que professor
seja eu educador, condutor de esperanças
para um novo amanhã. Tenha eu
complacência para com aqueles
que de mim mais necessitam. Como orientador
de vidas jamais a intolerância consiga
meu domínio e me force a trilhar
o cômodo caminho do descompromisso.
Esteja eu mais para Apóstolos que para Pilatos
com um assumir constante da Divina
Missão de educar, criar vidas, reinventar mundos.
Possa eu educar para a vida
longe da discriminação sem marginalizar ninguém,
pois todos da luz são herdeiros e merecedores.
Tenha eu sempre na alma a imagem,
a lembrança do Mestre-Amor, Mestre-Perdão
e jamais expulse meu aluno
que merece ser mais gente,
jamais um desviado na marginalidade da vida.
Jamais me deixe esquecer
de que a palavra orienta, mas o amor
e o exemplo constroem, edificam para a vida
para o mundo
e para Deus.
= = = = = = 

Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

Na velhice, as incertezas, 
para ocupar os espaços, 
vão empilhando tristezas 
e acumulando cansaços..
= = = = = = 

Soneto de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS

Lunar

As casas cerraram seus milhares de pálpebras.
As ruas pouco a pouco deixaram de andar.
Só a lua multiplicou-se em todos os poços e poças.
Tudo está sob a encantação lunar...

E que importa se uns nossos artefatos
lá conseguiram afinal chegar?
Fiquem armando os sábios seus bodoques:
a própria lua tem sua usina de luar...

E mesmo o cão que está ladrando agora
é mais humano do que todas as máquinas.
Sinto-me artificial com esta esferográfica.

Não tanto... Alguém me há de ler com um meio sorriso
cúmplice... Deixo pena e papel... E, num feitiço antigo,
à luz da lua inteiramente me luarizo...
= = = = = = 

Trova do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN

Desperto e fico tristonho,
é triste o meu despertar,
ver acabado o meu sonho
antes do sonho acabar!
= = = = = = 

Hino de
SÃO TOMÉ/ RN

I
Entre terras serranas azuis
Um ar Olímpico o sopro vital
De mares Glaucos que embalsamam e conduzem
Em sesmaria a data do Pica-pau.

II
És banhada pelo Potengi amado
Que suas vertentes, fazem brotar
As produções que afluíram
A agricultura familiar.

III
Nesta terra bendita e fecunda
Suas riquezas podemos ressaltar
Entre todas, o algodão, ouro branco
E os minerais não deixemos de lembrar.

IV
Tu és boa terra hospitaleira
Em acolhimento não te podem igualar
Por isso hoje teus filhos jubilosos
Com alegria te querem saudar.

Refrão
São Tomé, terra de gente de fé
Não vejo, contudo creio
Nós teus filhos entre brados e aclamações
Aqui vimos abrigar-nos no teu seio.
= = = = = = = = =  

Trova de
ADALBERTO DUTRA REZENDE
Cataguazes/MG, 1913 – 1999, Bandeirantes/PR

A missão será cumprida,
quer tu acertes ou falhes;
Deus traça as linhas da vida,
e o destino, seus detalhes…
= = = = = = = = =  

Soneto de 
ANIBAL BEÇA
Manaus/ AM (1946 – 2009)

Profissão de fé

Meu verso quero enxuto mas sonoro
levando na cantiga essa alegria
colhida no compasso que decoro
com pés de vento soltos na harmonia.

Na dança das palavras me enamoro
prossigo passional na melodia
amante da metáfora em meus poros
já vou vagando em vasta arritmia .

No voo aliterado sigo o rumo
dos mares mais remotos navegados
e em faias de catraias me consumo.

É meu rito subscrito e bem firmado
sem o temor do velho e seu resumo
num eterno retorno renovado.
= = = = = = = = =  = = = = 

Trova de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/ SP

Não lamento o meu outrora, 
nem choro uma dor vivida, 
lamento sim, a demora 
em por Deus em minha vida.
= = = = = = = = =

Poema de
AIRES DE ALMEIDA SANTOS
Bié/ Angola, 1922 – 1991, Benguela/ Angola

Meu amor da Rua Onze

Tantas juras nos trocamos,
Tantas promessas fizemos,
Tantos beijos roubamos,
Tantos abraços nos demos.

Meu amor da Rua Onze,
Meu amor da Rua Onze,
Já não quero
Mais mentir.

Meu amor da Rua Onze,
Meu amor da Rua Onze,
Já não quero
Mais fingir.

Era tão grande e tão belo
Nosso romance de amor
Que ainda sinto o calor
Das juras que nos trocamos.

Era tão bela, tão doce
Nossa maneira de amar
Que ainda pairam no ar
As promessas que fizemos.

Nossa maneira de amar
era tão doida, tão louca
Qu'inda me queimam a boca
Os beijos que nos roubamos.

Tanta loucura e doidice
Tinha o nosso amor desfeito
Que ainda sinto no peito
Os abraços que nos demos.

E agora
Tudo acabou.
Terminou
Nosso romance.

Quando te vejo passar
Com o teu andar
Senhoril,
Sinto nascer

E crescer
Uma saudade infinita
Do teu corpo gentil
De escultura
Cor de bronze,
Meu amor da Rua Onze.
= = = = = = = = =  

Poetrix de
ANGELA TOGEIRO
Belo Horizonte/MG

Falsa borboleta

Ousei ser lagarta e pupa.
Rompi o casulo
numa sociedade de asas tolhidas.
= = = = = = = = =  

Soneto de
GREGÓRIO DE MATOS
Salvador/BA, 1623 – 1696, Recife/PE

Soneto a uma saudade

Em o horror desta muda soledade,
Onde voando os ares a porfia,
Apenas solta a luz a aurora fria,
Quando a prende da noite a escuridade.

As cruel apreensão de uma saudade!
De uma falsa esperança fantasia,
Que faz que de um momento passe a um dia,
E que de um dia passe à eternidade!

São da dor os espaços sem medida,
E a medida das horas tão pequena,
Que não sei como a dor é tão crescida.

Mas é troca cruel, que o fado ordena;
Porque a pena me cresça para a vida,
Quando a vida me falta para a pena.
= = = = = = = = =  

Haicai de
ANGÉLICA VILLELA SANTOS
Guaratinguetá/SP, 1935 – 2017, Taubaté/SP

Cachecóis e mantas 
Amontoados sobre a cama: 
Frente fria que chega.
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Poema de
EUGÉNIO DE ANDRADE
(José Fontinhas)
Fundão/Portugal, 1923 – 2005, Porto/Portugal

As palavras que te envio são interditas

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma  regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos noturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.
= = = = = = = = =  

Limerique de
MARIANA U. BARDELLA
Americana/SP

Minha "peixinha"
é metidinha
um dia ela
foi parar na panela
virou comidinha.
= = = = = = = = =  

Carolina Ramos (Como de Costume…)


A majestade daquela lua enorme, exageradamente iluminada, não combinava, em absoluto, com o nebuloso astral daquele homem abatido à procura de um jeito honroso para retorno ao lar.

O dia fora terrível! O almoço, desastroso! Homem e mulher, se por uma balela qualquer se desentendem, a cada palavra cavam cada vez mais fundo o abismo que os separa, envolvidos pela avalanche verborrágica, que enrola razões, manipula argumentos, inflama egos e espicaça vaidades, na tentativa insana, de provar quem de fato é o dono da verdade.

Em poucos minutos, aquele casal, até ali tão unido, escorregara do éden conjugal para o inferno dantesco das acusações mútuas.

Lágrimas enxugadas na barra do avental e a batida violenta da porta, foram mais que convincentes para provar que o primeiro round estava findo, mas a luta , não.

Mirna empilhou os pratos sobre a mesa, transportando os copos para a pia, sem conseguir evitar que um deles se espatifasse a seus pés. Catou os cacos resignada. Era o primeiro copo quebrado, daquele bonito jogo azul, bico de jaca, presente de casamento da tia Júlia. Gostava dos copos. E mais ainda, da tia. Contudo, a dor que lhe doía no peito era tão forte que nem sentiu a perda. Com raiva, atirou os cacos na lata de lixo.

Largou-se em seguida na cama, soluçando desconsolada. Algum tempo depois, socava o travesseiro, como quem socasse a cara do marido desaforado…

De volta à pia, filosofava: – Por quê são os homens tão incompreensíveis?! Tão intransigentes, a ponto de comprometerem um diálogo sadio… um acerto de opiniões, uma análise de pontos de vista capazes de levar ao consenso ou, quem sabe, à discordância, já que nem sempre duas cabeças pensam de forma igual. Sempre cheios de razão …incapazes de admitir um erro… dar a mão à palmatória… E, que fácil seria dizer: – “Desta vez, errei, querida” . Até que aquele querida poderia ser dispensado. Bastaria dizer: – Errei, pronto! Perdoa, sim? – Claro que, depois disso, tudo terminaria bem. Qualquer mulher, mesmo entre raios e trovoadas, agiria assim, com aceitação… com naturalidade. Mas, qual deles à beira de uma tempestade, pensaria em valer-se do guarda-chuva do perdão, mesmo sabendo ser, essa. a única solução?

A esponja da filosofia, ajudou… e a louça foi lavada com requinte. A cozinha, arrumada, ganhou ares de cozinha de revista. Na fruteira, o brilho das frutas foi despertado pela flanela, em lustro vigoroso. As maçãs ficaram mais rubras, apetitosas. A raiva da moça exagerou no esfregão, a ponto de machucar uma delas.

Precisava ficar mais calma. Nenhum homem merecia uma lágrima de mulher – isso lhe dissera tantas vezes a mãe – pobre mãezinha, quantas vezes a vira chorar em silêncio!

O chuveiro lavou-lhe corpo e alma. Maquiou-se com cuidado e perfumou-se. Nenhum gladiador adentra a arena desarmado. Faltava pouco para o retorno do marido. Retornaria? – Ah… haveria de ouvir poucas e boas!

Dedos nervosos pegaram o tricô e ligaram o televisor. Tempo de novela. Tanto drama em casa e aquela mania tola de imiscuir-se nas tramas televisivas, como se a vida não passasse de histórias somadas entre tapas e beijos… briguinhas e abraços , intrigas e enrolações, quase sempre encaminhadas para um final feliz, a premiar bons e castigar maus. Como se tudo pudesse ser resolvido por toques no teclado de um computador, à disposição dos dedos do autor. Como se aqueles dedos fossem pequenos deuses a tal ponto poderosos que capazes de criar vidas, tecer tramas e alterar destinos, a bel prazer.

Envolta em mágoas, Mirna deixou escapar a malha do tricô e perdeu o fio da novela. Ao ouvido atento, porém, não passou despercebido o torcer da chave na fechadura.

Ele! Sequer virou a cabeça ou desgrudou os olhos do vídeo. O tricô…

Esperava pela primeira palavra, que não veio. A tensão cresceu quando sentiu a aproximação do marido. Teve vontade de encará-lo. Conteve-se. Ele sentou-se no sofá ao seu lado. Tenso e mudo.

O corpo da moça retesou-se, pronto para recomeçar a batalha verbal interrompida.

Relaxou, quando sentiu a cabeça do marido aninhar-se no seu colo, como de costume. E, como de costume, os dedos dela deslizaram mansamente pelos cabelos macios, como que alisando, com a ternura de sempre, o pelo macio de um gato fujão.

Naquela noite, o amor falou tão alto… que nem foi necessária palavra alguma!
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CAROLINA RAMOS nasceu em Santos/SP, em 1924. Dia 19 de março de 2025, comemorou seu 101. aniversário. Desde cedo atraída pelas letras, seus amigos mais chegados eram os livros. Essa preferência aproximou-a das artes e literatura. Na Escola Normal, diplomou-se como Professora e Secretariado.. Completou seus estudos formando-se em música. Fez o curso completo de Música. Vários cursos de Literatura, de Folclore, Línguas e um pequeno Curso de Enfermagem. Leu na adolescência, tudo o que lhe caia nas mãos, desde toda a obra de Machado de Assis, José de Alencar, e outros nacionais e estrangeiros. No ginásio, costumava fazer algumas quadrinhas de pé quebrado. Fez seu primeiro poema quando a filha, Márcia, nasceu, “Se eu soubesse esquecer”. Publicou versos num Suplemento de Arte, do Jornal local, A Tribuna. Possui vários prêmios, no Brasil e alguns no Exterior, de Contos, Poesias, Trovas e Crônicas. Por seu poema, Paz, foi agraciada com Diploma e Medalha de Mérito Internacional, em Nocera - Salerno, Itália. Trovadora, contista, poeta, santista ilustre, foi Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Santos por oito anos (2001 a 2007) e Presidente da União Brasileira de Trovadores – Seção de Santos. Pertence a diversas entidades culturais, como Academia Santista de Letras, Academia Feminina de Letras, Academia Cristã de Letras de São Paulo, Confraria Brasileira de Letras, e de várias outras Academias de Letras e entidades culturais do Brasil. Agraciada com diversas medalhas de mérito cultural em Santos, com a “Medalha do Sesquicentenário de Santos”, outorgada pela Prefeitura Municipal; “Medalha dos Andradas”, pelo IHG de Santos e “Medalha Brás Cubas”, outorgada pela Câmara de Santos, em 2006”. Recebeu diversos títulos, homenagens e prêmios em Portugal e Angola. Em 2021 o título de "Princesa da Trova" . Em 2023, vencedora do Hino Oficial da Academia Cristã de Letras de São Paulo. Alguns livros publicados:
“Sempre” – (Poesias); “Cantigas Feitas de Sonho” – (Trovas); “Interlúdio” – (Contos); “Paulo Setúbal – Uma Vida Uma Obra”  (em parceria c/Cláudio de Cápua); “Júlia Lopes de Almeida” – (Biografia); “Feliz Natal!” – (Contos Natalinos); “Príncipe da Trova” – (Biografia); “Liberdade... Sonho de Todos!” – (Prosa – Poesia – Trova) ; “Destino” -  (Poesias); ”Canta...Sabiá!”  (Folclore do Brasil); ”Bichos... Bichinhos... e Bichanos...” (livro infantil), entre outros.
 
Nas palavras de Carolina em entrevista concedida a José Feldman: 
A obra do escritor não tem fronteiras. Não há limites que cerceiem a sua criação, e, muito menos, cronológicos. Mas o escritor não é imune às influências do meio e da época em que vive. Seus escritos bebem a água da inspiração, na fonte que corre perto de seus pés. A voz do escritor incorpora a voz do seu tempo e, automaticamente, através do que escreve, passa a interagir, de acordo, ou não, com a vida que rola à sua volta, e até mesmo contra suas próprias convicções, segundo as exigências da personagem criada. Note-se, que há, sempre, escritores e poetas envolvidos nas grandes causas que o cercam e que acabam por marcar suas existências. É por isso, que podemos afirmar que poetas e escritores, em qualquer tempo ou lugar, são quase sempre ativistas sociais e arautos dos grandes acontecimentos que marcam o seu tempo.”

Fontes: 
RAMOS, Carolina. Interlúdio: contos. SP: EditorAção, abril 1993. Enviado pela autora, 
Imagem com Microsoft Bing. 

Júlia Lopes de Almeida (Quiromancia)


Uma bela tarde, a minha amiga Rafaela entrou arrebatadamente na minha saleta de trabalho e deixou-se cair num tamborete, a meus pés.

— Que tens? Perguntei-lhe assustada, percebendo-lhe o terror no rosto, ordinariamente repousado.

Por única resposta ela estendeu-me a mão espaldada e nua, e arregalou para mim os seus olhos claros, cor de violeta.

— Não percebo o teu gesto… Roubaram-te o anel que ele te deu?… Não abranges a oitava no piano e desistes de o estudar? Terás reumatismo nos dedos? Bem; se não queres responder, vai-te embora, mas arranja primeiro o chapéu, que está torto, e modifica esse ar de quem foge de alguém que o persegue na rua…

— Ninguém me seguiu na rua… O anel que ele me deu está na outra mão…

E, como orvalho em violetas, borbulharam lágrimas nos olhos da pobre Rafaela.

— Se pudesses explicar-te…

— “Escuta! Venho da casa da Noêmia Saldanha; havia lá gente de fora, uns homens de quem já não me lembro do nome e um certo rapaz que lia nas mãos das senhoras a buena dicha, ou que melhor nome tenha. Quando eu entrei, a Saldanha disse alto, com o seus guinchinhos de macaca: “Olhem quem vem aí!” e puxou-me com violência para a roda, que se abriu muito amável para me receber. O tal rapaz continuou nos seus prognósticos, que faziam rir a todos. Lia na mão da Sinhá Mendes coisas muito bonitas: que ela se haveria de casar com um moço que a adora… Que há de ir à Europa, que há de ter três filhos gordos mansos, fortes e bonitos; que herdará uma grande fortuna de um parente afastado de quem não terá saudades; que terá lindos vestidos, bons carros, assinaturas no lírico e que morrerá de velha, sem sentir, de uma síncope…

“Todos riam; a Sinhá estava radiante! Com aquele exemplo, eu fui insensivelmente desabotoando a luva e estendendo também a minha mão.

“O rapaz tornou-se sombrio, à proporção que a observava. Como eu instasse para que dissesse a verdade, fosse ela qual fosse, ele, muito constrangido, declarou tudo.

“Disse que não me casarei, que terei bexigas, apesar de vacinada duas vezes, e que ficarei marcada como um crivo; disse que a minha família me abandonará e que morrerei ainda moça, de um ataque, na rua! Vida tão feia não merece melhor desfecho!”

— Um ataque na rua! Que ignomínia! Vê tu!

— E depois?

— Depois… Que sou muito nervosa — e isto é verdade! — que tenho uma grande paixão… Também é certo… Que tenho excelentes qualidades de coração, o que não me impedirá de morrer como um cão sem dono, na calçada…

— Que mais?

— Ainda querias mais?!

— Que respondeste?

— ‘Fingi heroicidade, que é sempre o nosso costume, mas sabe Deus o que se passava cá dentro! Quando pude fugir, fugi. Os guinchos da Noêmia perseguiam-me; a alegria da Sinhá irritava-me. A felicidade dos outros agrava o nosso infortúnio.

“Só hoje compreendi isto. Por mais que eu olhe para a mão, para estes caminhos que parecem traçados na palma pela ponta finíssima de um alfinete e por onde marcham os nossos instintos, os nossos segredos e até o nosso futuro se esclarece, por mais que eu observe toda esta rede complicadíssima, não consigo descobrir nada! Se ele se tivesse enganado?! Mas não; vi que falou com toda a convicção, disse a verdade.

“Eu agora já sei; abandono-me, aceito o meu destino, o meu feio destino de ser medonha, não ser amada e morrer numa calçada, à vista de quem passar na ocasião!”

— Não vês, minha tontinha, que te meteram num enredo? Vou apostar eu como o tal rapaz entende tanto de quiromancia como eu.

— Ah, a quiromancia é uma arte!

— E nas salas uma armadilha maliciosa à ingenuidade de certas moças…

Quando tiveres algum segredo que não queiras ver profanado, nem pela mais leve suspeita, abotoa bem as tuas luvas ao entrar em certas salas. Entretanto, fica certa de que não será nas linhas da mão que ele se mostre todo, mas no rubor das tuas faces ou no pestanejar dos teus olhos, que serão consultados à proporção que se faça a leitura fatídica. Quanto ao resto, o rapaz, se não foi absolutamente delicado, não deixou de ter uma pontinha de espírito. Sinhá é feia, tu és bonita; ela roça pelos trinta anos, tu ainda não tens vinte, ele quis igualar-vos momentaneamente, vestindo-te de desapontamento e iluminando a outra de alegria. Na tua idade os segredos são leves e fáceis de adivinhar; em todo caso guarda-os contigo, ou só para a confidência amiga. O recato do sentimento, fortifica-o e enobrece-o. E o coração de uma donzela não se deve devassar a todas as curiosidades… Ele é, como disse o poeta Vigny: un vase sacré tout rempli de secrets*.
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* un vase sacré tout rempli de secrets. = um vaso sagrado completamente cheio de segredos
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JÚLIA VALENTIM DA SILVEIRA LOPES DE ALMEIDA, nasceu em 1862 no Rio de Janeiro e morreu em 1934 na mesma cidade. Passou parte da infância em Campinas - SP. Seu primeiro livro - Traços e Iluminuras - foi publicado aos 24 anos, em Lisboa. Antes disso já publicara artigos na imprensa, tendo sido uma das primeiras mulheres a escrever para jornais. Com uma linguagem leve, simples, cativou seu público: escreveu e publicou mais de 40 volumes entre romances, contos, narrativas, literatura infantil, crônicas e artigos. Foi abolicionista e republicana além de mostrar, em suas obras, ideias feministas e ecológicas. Contista, romancista, cronista, teatróloga. Fez conferências e colaborou em vários periódicos do Rio de Janeiro e de São Paulo, entre eles Gazeta de Notícias, Jornal do Comércio, Ilustração Brasileira, A Semana, O País, Tribunal Liberal. Casou com o poeta e teatrólogo português Filinto de Almeida, com quem dividiu a autoria do romance A casa verde. Ocupou a cadeira nº 26 da Academia Carioca de Letras. Em seu livro A árvore (1916), defende com rigor o ambiente natural, afirmando que "cortar uma árvore é estrangular um nervo do planeta em que vivemos", preocupação inusitada para a sua época. Seus filhos Afonso Lopes de Almeida, Albano Lopes de Almeida e Margarida Lopes de Almeida também se tornaram escritores.
Fonte:
Júlia Lopes de Almeida. Livro das Donas e Donzelas. Publicado originalmente em 1906. Disponível em Domínio Público.  
Imagem criada com Microsoft Bing

24 abril 2025

Asas da Poesia * 16 *


Poema de
MACHADO DE ASSIS 
Rio de Janeiro/RJ, 1839 – 1908

O desfecho

Prometeu sacudiu os braços manietados
E súplice pediu a eterna compaixão,
Ao ver o desfilar dos séculos que vão
Pausadamente, como um dobre de finados.

Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilhão,
Uns cingidos de luz, outros ensanguentados...
Súbito, sacudindo as asas de tufão,
Fita-lhe a águia em cima os olhos espantados.

Pela primeira vez a víscera do herói,
Que a imensa ave do céu perpetuamente rói,
Deixou de renascer às raivas que a consomem.

Uma invisível mão as cadeias dilui;
Frio, inerte, ao abismo um corpo morto rui;
Acabara o suplício e acabara o homem.
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Texturas

Aconchega-se
À toalha de seda lilás
Ao bule branco,
Mesclam-se luz e sombra
Em dobras,
Tecidas na delicada seda -
Um labirinto...
Ao toque da porcelana
A sensação
De uma atemporal imagem,
Uma tala, um devaneio -
Saudade.
= = = = = = 

Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

A existência é definida
não por azar, mas por sorte:
quanto mais cheios da vida,
mais perto estamos da morte.
= = = = = = 

Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Quando as lágrimas caírem do rosto das estátuas
(Narciso Alves Pires, in “Para além do adeus”, p.48)

Quando as lágrimas caírem do rosto
Sereno das estátuas da mansão
Já o tempo terá feito uma invasão
E os dourados umbrais terá transposto.

Decadente, o jardim esteve exposto
Às ervagens da vil degradação
E o teto, na capela e no salão
Tem as rugas abertas de um desgosto,

De pé inda as estátuas permanecem
Velando o pó e a mágoa que adormecem
Vencidos por tão trágica vigília.

O breu vai caindo sobre a memória
Do que resta de alguma ida glória
Que morreu no brasão desta família.
= = = = = = = = = 

Poetrix de
AILA MAGALHÃES
Belém/PA

indigestão

A boca da noite
Mastigou meus sonhos
Sem digerir os pesadelos…
= = = = = = 

Poema de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

O cavaleiro pobre
(Pouchkine)

Ninguém soube quem era o Cavaleiro Pobre,
Que viveu solitário, e morreu sem falar:
Era simples e sóbrio, era valente e nobre,
E pálido como o luar.

Antes de se entregar às fadigas da guerra,
Dizem que um dia viu qualquer coisa do céu:
E achou tudo vazio... e pareceu-lhe a terra
Um vasto e inútil mausoléu.

Desde então, uma atroz devoradora chama
Calcinou-lhe o desejo, e o reduziu a pó.
E nunca mais o Pobre olhou uma só dama,
Nem uma só! nem uma só!

Conservou, desde então, a viseira abaixada:
E, fiel à Visão, e ao seu amor fiel,
Trazia uma inscrição de três letras, gravada
A fogo e sangue no broquel.

Foi aos prélios da Fé. Na Palestina, quando,
No ardor do seu guerreiro e piedoso mister,
Cada filho da Cruz se batia, invocando
Um nome caro de mulher,

Ela rouco, brandindo o pique no ar, clamava:
“Lumen coeli Regina!” e, ao clamor dessa voz,
Nas hostes dos incréus como uma tromba entrava,
Irresistível e feroz.

Mil vezes sem morrer viu a morte de perto,
E negou-lhe o destino outra vida melhor:
Foi viver no deserto... E era imenso o deserto!
Mas o seu Sonho era maior!

E um dia, a se estorcer, aos saltos, desgrenhado,
Louco, velho, feroz, - naquela solidão
Morreu: - mudo, rilhando os dentes, devorado
Pelo seu próprio coração.
= = = = = = 

Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

Lembranças deixam feridas 
que nascem na alma da gente. 
Que tenham elas nascidas
no passado… ou no presente!
= = = = = = 

Poema de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES

Canção Anã

Essa abstração me
acarreta
acanhos e
acabrunhamentos!
Açambarca
anseios,
açoda instintos e
acossa
o CORAÇÃO.

Assalta e açoita a
Inocência
existente em mim...
adultera sonhos,
alucina emoções,
angaria debilidades,
aquece a ilusão, na
amplidão dessa
SAUDADE.

Aquém, vivo e padeço,
apressando os dias,
acelerando as horas,
apregoando frases mortas!
Azedo, arraso o corpo inteiro,
arrefeço o sangue quente, na
agonia de 
amoldar o
amor e a FELICIDADE!...
= = = = = = 

Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

Se a gente fosse dar crédito 
ao que diz a maioria,
só de "autor de livro inédito" 
tinha uns mil na Academia!...
= = = = = = 

Poema de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS

Um dia acordarás

Um dia acordarás num quarto novo
sem saber como fosse para lá
e as vestes que acharás ao pé do leito
de tão estranhas te farão pasmar,

a janela abrirás, devagarinho:
fará nevoeiro e tu nada verás...
Hás de tocar, a medo, a campainha
e, silenciosa, a porta se abrirá.

E um ser, que nunca viste, em um sorriso
triste, te abraçará com seu maior carinho
e há de dizer-te para o teu assombro:

— Não te assustes de mim, que sofro há tanto!
Quero chorar — apenas — no teu ombro
e devorar teus olhos, meu amor...
= = = = = = 

Hino de
AMAPORÃ/ PR

Foi a fibra do valente pioneiro 
Que lutando com audácia e destemor 
Fez surgir neste recanto hospitaleiro 
Esta terra de Paz e Esplendor
Já nascestes com destino grandioso 
E a mais nobre determinação 
Amaporã és torrão generoso 
Onde tudo é labor e união. 

Caminhando pela trilha do sucesso
Com a força do trabalho como lema 
Construindo dia a dia o teu progresso 
Desde o tempo em que te chamavam Jurema 
Nossa Senhora de Fátima querida
Com seu Manto estende sua proteção 
Abençoando para sempre a nossa lida 
E as riquezas que brotarem deste chão. 

Amaporã - chuva bonita, qual cascata.
Despetalando alva espuma no Ivaí 
Irrigando as lavouras e a mata 
No cenário mais lindo que eu já vi 
Eu que sou filho deste recanto 
Com orgulho hei de dizer 
Amaporã: És colmeia de encanto 
Onde sempre haverei de viver. 

Caminhando pela trilha do sucesso
Com a força do trabalho como lema 
Construindo dia a dia o teu progresso 
Desde o tempo em que te chamavam Jurema 
Nossa Senhora de Fátima querida
Com seu Manto estende sua proteção 
Abençoando para sempre a nossa lida 
E as riquezas que brotarem deste chão. 
= = = = = = = = =  

Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

O amor que perdura
 
Nosso primeiro encontro no trabalho;
depois a nossa loja, nossas casas...
Os filhos chegam, como sempre, brasas
aquecidas e boas... Embaralho

das nossas vidas diferentes, asas
ligeiras balançando meu grisalho
amor, ciumento de nós todos, malho
constante dos espíritos. Abrasas

minha existência... Mas te amava tanto
que sublimei por muitos anos teu
precoce encantamento... E tanto quanto

te amei,  passei  a duvidar do amor
de qualquer ser humano... E espero ter
meu encontro contigo  quando eu for.
= = = = = = = = =  = = = = 

Trova Premiada de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/ SP

Ser mãe é perpetuar 
a vida em seu seguimento 
conjugando o verbo AMAR 
seja qual for o momento.
= = = = = = = = = 

Uma Lengalenga de Portugal
HORAS DE SONO

(Esta lengalenga é também provérbio/adágio, cantada no século XVIII)

 Quatro horas dorme o santo,
 Cinco o que não é tanto,
Seis o caminhante
Sete o estudante,
Oito o preguiçoso,
Nove o porco,
Mais só o morto.
= = = = = = = = =  

Quadra Popular de
ANTÓNIO JOSÉ BARRADAS BARROSO
Paredes/ Portugal

Nosso querer tão velhinho,
cheio de ternuras e afetos,
se deu, aos filhos, carinho,
mais ainda deu aos netos.
= = = = = = = = =

Triverso travesso de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Ah, havia o espaço
e no espaço havia ação.
Apertem os cintos.
= = = = = = = = =  

Poema de 
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/PR

O céu de tão azul
Estava um tipo Mário Quintana
E até a minh'alma mundana
Ganhou uma veste celeste
Mesmo sem saber que era prece
Ver o voar da Tesourinha
Que cortava o céu
E costurava sem linha
Um manto azul,
De um toque quase sagrado
Para aqueles que foram perdoados
E nem perguntaram o porquê.
= = = = = = = = =  

Trova de
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Nós somos duas tipoias
na ajuda às forças escassas
- quando fracasso, me apoias,
te apoio, quando fracassas!…
= = = = = = = = =  

Poema de 
PEDRO DU BOIS
Passo Fundo/RS, 1947 – 2021, Balneário Camboriú/SC

Você 

Rasgo a página não inscrita que da perda
não ficarão registros
do passado lavado
em novos passos imundos
de soberbos ataques
na chuva miúda
intermitente
sobre guarda-chuvas
abertos em proteção
e escudo: raios e trovões
não acontecidos na sequência
do desencontro

sim
você estava ali
seu perfume permanece
sobre o cheiro dos temperos e alguém cita
seu nome
e me volto em incertezas

página rasgada do que não escrevi no dia
que seria da chegada e não houve o tempo
seco das histórias de memórias difundidas
lendas sacramentadas em perdões e profecias

a chuva miúda aos poucos alaga a rua
em descaminhos
como os fins e os meios
repetidos em sangue não doado

sim
você esteve lá
seu perfume oferta
temperados pratos
insossos para sempre.
= = = = = = = = =  

Aldravia de
MARIA BEATRIZ DEL PELOSO RAMOS
Rio de Janeiro/RJ

Saudade
amuleto
líquido
usado
no
peito
= = = = = = = 

Setilha de
ADAUBERTO AMORIM
Crato/CE

Ao som do mar eu relembro
Um momento eternizado,
Um trinta e um de dezembro
Consumido e consumado.
As ondas molhando a areia
E eu beijando uma "sereia"
Num sonho bem acordado.
= = = = = = = 

Epigrama de
ANTÔNIO SALES
Fortaleza/CE, 1868 – 1940

– A fealdade é um direito;
Por isso ninguém a acusa.
Mas ser feia desse jeito…
Perdão: a senhora abusa!
= = = = = = 

Asas da Poesia * 46 *

Poema de LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE Pinhalão/PR Tuas Mãos "Tua mão esquerda está sob minha cabeça, e tua direita abraça-me " (Ct.8....