02 maio 2025

Asas da Poesia * 21 *


Poema de
WASHINGTON DANIEL GOROSITO PÉREZ
Irapuato/Guanajuato/México

Solidão
 
A solidão dos espaços
infinitos me aterroriza.
Pascal.
 
Muda, etérea, indisciplinada,
se rompe ante a vista
do mundo.
 
A vontade de sermos livres
nos guia.
Às vezes,
enfraquece essa vontade.
 
Até onde se inclina o fiel
da balança da liberdade?
 
Vista nossa decadência atual,
é impossível prever,
se seremos conservadores,
para construir a liberdade.
 
Ou nos encerramos mais
na solidão.
= = = = = = = = =  

Trova de
JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

Nada mais belo, decerto,
no cenário da esperança,
que a imagem de um livro aberto
sob o olhar de uma criança!
= = = = = = = = =  

Poema de
MACHADO DE ASSIS 
Rio de Janeiro/RJ, 1839 – 1908

Alencar

Hão de os anos volver, — não como as neves
De alheios climas, de geladas cores;
Hão de os anos volver, mas como as flores,
Sobre o teu nome, vívidos e leves...

Tu, cearense musa, que os amores
Meigos e tristes, rústicos e breves,
Da indiana escreveste, — ora os escreves
No volume dos pátrios esplendores.

E ao tornar este sol, que te há levado,
Já não acha a tristeza. Extinto é o dia
Da nossa dor, do nosso amargo espanto.

Porque o tempo implacável e pausado,
Que o homem consumiu na terra fria,
Não consumiu o engenho, a flor, o encanto...
= = = = = = = = =  

Trova de
CAROLINA RAMOS
Santos/ SP

Quando a noite se desata
e o véu de sombras descerra,
a lua derrama prata
sobre as misérias da terra.
= = = = = = 

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Prelúdio do anoitecer

Esmaece o fim de tarde
Quase, posso tocar
As nuvens, em degrade
Ah, esse silêncio encantado
Do outono em gotas
À beira do lago beijando as folhas,
Sussurrando às flores
Um poema de amor,
Enquanto  embala
A despedida do dia
Na cadeira de balanço
E nesse amenizar da respiração
Da saudade tão intensa,
Mas calada - disfarçada - lágrima
Deixo as lembranças
De cada detalhe
Do teu corpo junto ao meu
Mesclarem-se, unificando-nos
Nesse terno e apaixonante
Prelúdio do anoitecer...
= = = = = = 

Haicai de
ÁLVARO POSSELT
Curitiba/PR

Faz eco na rua –
O grito dos quero-queros
sob o nevoeiro
= = = = = = 

Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Sobre a margem tranquila de um açude
(Mário Quintana, in “Rua dos Cataventos”)

Sobre a margem tranquila de um fresco açude
Fez uma pausa longa o Tempo, a acalmar
Exausto de correr sempre a vindimar
Risos, vontades, crenças e juventude.

Também eu me detive nessa atitude
De conceder a mim mesmo esse vagar
Vergando-me ante mim, não sendo eu altar
Num gesto de humildade que me desnude.

Temos andado os dois sempre de mãos dadas
Desperdiçando as horas, que são sagradas
Em correrias loucas e sem sentido.

Vejo agora que me expus ao grave risco
De fazer desta vida um pequeno cisco
E chegar ao fim sem nunca ter vivido.
= = = = = = = = = 

Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Bem outro seria o clima
se em tantos gritos cruzados,
fosse ouvida, lá de cima,
a prece dos desgraçados!
= = = = = = 

Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

Maldição

Se por vinte anos, nesta furna escura,
Deixei dormir a minha maldição,
- Hoje, velha e cansada da amargura,
Minh’alma se abrirá como um vulcão.

E, em torrentes de cólera e loucura,
Sobre a tua cabeça ferverão
Vinte anos de silêncio e de tortura,
Vinte anos de agonia e solidão...

Maldita sejas pelo Ideal perdido!
Pelo mal que fizeste sem querer!
Pelo amor que morreu sem ter nascido!

Pelas horas vividas sem prazer!
Pela tristeza do que eu tenho sido!
Pelo esplendor do que eu deixei de ser!...
= = = = = = 

Trova de 
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

É nos momentos tristonhos 
que eu peço à minha lembrança 
que traga de volta os sonhos, 
no aconchego da esperança…
= = = = = = 

Soneto de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN, 1876 – 1901, Natal/RN

À memória de uma ave

Quando morre uma criança,
Diz-se que o pálido anjinho
Voou como uma esperança,
Foi para o Céu direitinho.

Mas nossa mente se cansa
A voar de ninho em ninho,
Interrogando a lembrança,
Quando morre um passarinho.

Só eu, se alguém diz que a vida
De uma avezinha querida
Se extingue como um clarão,

Ponho-me a rir, pois, divina,
Ouço cantar, em surdina,
Tu' alma em meu coração.
= = = = = = 

Haicai de
GUILHERME DE ALMEIDA
Campinas/SP 1890 – 1969 São Paulo/SP

Interior

Havia uma rosa
no vaso. Veio do ocaso
a hora silenciosa.
= = = = = = 

Soneto de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS

Imemorial

À noite pervaguei pelo Beco do Império
que há cinquenta anos não existe mais
e as horríveis mulheres, nos portais,
estavam belas de eu sonhar com elas.

Um bêbado me olhava, muito sério.
"Ó meu velho Condessa, como vais?"
Porém, agora — eu é que era o velho
e ele nem me conhecia mais...

Tolice!... Ele, afinal, disse o meu nome!
Ah, sempre que se sonha alguma coisa
tem-se a idade do tempo em que as sonhamos:

Me esqueci do futuro... e lá nos fomos
e a luz da Lua — eterna, intemporal —
juntava numa as duas sombras gêmeas.
= = = = = = 

Hino de 
ITABUNA/ BA

I
Lá na mata, o ouro fruto,
O seu brilho atraiu
Homens bravos, corajosos,
A natureza... O desafio!
Com o machado, o homem na mata
Ressoa o grito voraz da vitória!
Tabocas! Tabocas! Tabocas...
Itabuna tu és agora!

Refrão:
Na madeira, o machado taboca!
E a vila de Ferradas vem surgindo!
O fruto ouro nos olhos, na alma!
Do Cachoeira, a cidade se expandindo!
Amada cidade grapiúna,
Sua glória; sua história
São orgulhos ao coração!

II
Com muralhas, em seu rio,
Grande espelho se formou!
Pedra preta refletindo
Sua gente, seu progresso, seu valor!
Nas praças, seus contos na memória!
Os compêndios enaltecem sua história!
Amada cidade grapiúna:
Itabuna tu és agora!

III
Hoje és linda, hoje és forte!
Sua fauna é conhecida!
Há riquezas nessa terra!
Nessa flora mãe amiga!
No comércio, na indústria... Sua força!
Esse aroma de cacau no coração
São braços fortes, que acolhem o seu povo.
Outra terra não há igual!

Obs : Repetir no final do último coro:
Itabuna, sua glória, sua história
São orgulhos ao coração! 
= = = = = = = = =  

Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

Teu retrato

Em frente ao teu retrato jovem, belo,
Chegado há pouco tempo nesta terra,
Cheio de sonhos bons, encontra a guerra
Pela sobrevivência, e busca um elo.

O sorriso confiante nela encerra
Uma esperança no porvir, no anelo,
buscavas inquietante,  sem libelo,
o  apoio certo, então sobes a serra.

Desiludido já não  ris, na foto
Da carteira social, anos depois.
Sério, parece preocupado e noto,

Que não foi tão feliz a decisão
De deixares a amada terra, pois,
Choravas de saudade à volição.
= = = = = = = = =  = = = = 

Uma Lengalenga de Portugal
MENINA BONITA

 Menina bonita
Não sobe à janela
Porque o bicho mau
Carrega com ela.
 
Se quer alvos ovos
Arroz com canela
Menina bonita
Não sobe à janela.
 
Não sobe à janela
Não sobe à varanda
Porque lá está posta
Uma fita de ganga.
 
E dentro da panela
Uma fita amarela
E dentro do poço
A casca de tremoço
E lá no telhado
Um gato molhado
= = = = = = = = =  

Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Se eu pensara quem tu eras,
 quem tu havias de ser,
não dava meu coração
para tão cedo sofrer.
= = = = = = = = =  

Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba / PR

Palavra é ave
Às vezes suave
Às vezes arredia
Entre um pouso e outro
Escolhe um coração
Como ancoradouro
Pra nele fazer
O seu seguro ninho.
= = = = = = = = =

Soneto de
FLORBELA ESPANCA
Vila Viçosa/Portugal, 1894 – 1930, Matosinhos/Portugal

Amor que morre

O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!

Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia...

Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos para partir.

E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossível que há de vir!
= = = = = = = = =  

Setilha do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Casinha à beira da estrada
com chão de terra batida,
fiz do teu portão de entrada
o meu portão de saída,
parti morto de saudade
tangendo os sonhos da idade
pelas estradas da vida!
= = = = = = = = =

Francisco José Pessoa (Escrevo…)


Escrevo sim, para completar o pouco de tempo que me resta, tentando enriquecer-me espiritualmente, pois a fortuna material faria pesar ainda mais meu caixão. E vai ali um pobre rico, que soube brincar com a vida, tornando-a um carrinho de lata de doce de goiabada, Real, por sinal, a rolar calçadas íngremes num desafio constante ao subir e descer coxias. Alimento-me com o bater dos teclados, orquestra sinfônica das minhas várias noites mal ou bem dormidas. Sorvo o néctar dos sábios, mesmo sabendo que sou incapaz de assimilá-lo, mas tento outra vez por ser teimoso. E no ir e vir das minhas falanges , apertando cada tecla como num amor de batráquio, satisfaço-me e chego ao orgasmo falso dos falsos escritores. Assim me vejo no meu crítico espelho.

Quanto de devo ó ciência, pois poupaste meu tempo em corrigir meus erros ortográficos, bem como de desgastar as páginas já amareladas e carcomidas do meu Aurélio. Mas escrevo de modo um tanto compulsivo, como no afã do asmático que traga o ar que lhe rodeia, fazendo da eternidade aquele momento. Que bom seria se eu fosse poeta, traduzindo nas minhas linhas o cotidiano, o que a vida me dá e o que tiro dela… seria uma comédia própria não dos teatros da fifth avenue, mas dos circos que percorrem o sertão do nordeste, com suas lonas remendadas, castigadas por um sol sempre presente e pela chuva que acanhadamente, às vezes aparece.

Quão bom é brincar de escrever pois, as ideias e os cenários que passam uns após outros nos transportam para o vale dos sonhos aonde os homens se amam e a paz é a mediadora dos entreveros que não existem. Onde a graúna no seu canto mavioso brinca com os acordes, liberta em pleno voo. Onde o crocodilo abre seu bocão que aterroriza, mas verte lágrimas com um olhar piedoso. Onde o beija-flor no seu incessante bater de asas, desfiando a lei da gravidade, suga o néctar das rosas, papoulas e margaridas que harmoniosamente compõem e fazem o equilíbrio crômico do meu jardim, por que não meu éden?

Escrevo, escrevo sim, para eternizar para os meus pares o meu tísico pensamento, a minha às vezes tão comentada e criticada maneira de ser, que com certeza e, assino embaixo, nunca teve um tempero de maldade ou falsidade, pois, escrevendo, rumino um pouco do meu eu que, quisera Deus, fosse um alívio para os que sofrem mais que eu.

Vida, minha vida, como fresco contigo minha quenga virgem.

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 
FRANCISCO JOSÉ PESSOA DE ANDRADE REIS, nasceu em Fortaleza/CE, em 1949 e faleceu nesta cidade em 2020. Médico oftalmologista, com mais de quarenta anos de atuação nessa especialidade, ao tempo em que paralelamente se dedicava à vida literária, como poeta, trovador, cordelista e crônicas. Sempre muito festejado em suas rodas de amigos e colegas do Ceará, que carinhosamente o chamavam de “Pessoinha”. Aluno do Colégio Militar de Fortaleza, onde já se notabilizava como músico e ritmista da banda oficial dessa corporação militar. Diplomou-se em 1976, em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Residência Médica em Oftalmologia no Hospital Pedro Ernesto do Rio de Janeiro. Tenente-médico do Hospital Geral do Exército de Fortaleza, onde serviu durante quatro anos. Possuía Clínica de Oftalmologia, como médico cooperado da Unimed Fortaleza. Era sócio da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – Regional Ceará (Sobrames-CE), membro da Academia Maçônica de Letras do Estado do Ceará, membro da União Brasileira de Trovadores – Seção Fortaleza e acadêmico titular fundador da Academia Cearense de Médicos Escritores (ACEMES). Participou de diversas coletâneas como Sobrames-CE: Inspiração (2006), Receitas Literárias (2010), Passeata Literária (2011), Murmúrios Literários (2012), Letras que Curam (2013), Semeando Cultura (2016), À Flor da Pele (2017), Lapso Temporal (2018), Pontos de Vista (2019) e Sopro de Luz (2020). Foi parte em várias antologias literários do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul. Em 2014, publicou o seu livro Isto é Coisa do Pessoa, reunindo contos, crônicas, poesias, cordel e trovas. Destaque-se, também, o seu exuberante bom humor, como contador de causos, tendo, inclusive, publicado alguns em uma antologia de causos da caserna, e por jactar chistes precisos e engraçados Recebeu, merecidamente, premiações em vários concursos nacionais de trovas e poesias e foi um dos agraciados do Prêmio Unifor de Literatura de 2009 – Categoria Crônicas. Trovador premiadíssimo nos concursos de trovas.

Fontes:
Enviado pelo autor em 5 de março de 2013.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

Antonio Brás Constante (Tá Com Pressa? Então Se Vira e Come Cru)


A pressa move o mundo moderno. Move tão rápido que as vinte e quatro horas do dia já não são suficientes para que possamos cumprir com todas as nossas obrigações. Logo teremos um projeto no senado propondo que os dias passem a ter trinta horas. Afinal, se políticos já quiseram mudar o curso dos rios, porque não alterar o tempo também?

Claro que para mudar o calendário dessa forma haveria a necessidade de se suprimir o sábado. Em compensação o domingo passaria a ter trinta horas, e com um pouco de ajuda do marketing moderno (e com muita maionese) a população acabaria acreditando e engolindo que isso seria algo bom. Os dias ficariam estranhos, a noite invadiria o dia e vice-versa, mas o poder de adaptação do brasileiro (quem sabe se a ideia pega, vire até algo mundial) é incrível e deve se ajustar a este inconveniente fuso horário caótico.

Mas a pressa não mexe apenas com a criatividade de nossos políticos e escritores. Cada vez mais vivemos envolvidos em uma correria louca, e é por causa dessa correria que se criaram os lanches rápidos, as fotos instantâneas, as comidas prontas, as vias de trânsito rápido e (principalmente entre os famosos) os tais casamentos rápidos.

Fulano, astro do futebol, contrai núpcias com Beltrana (expressão estranha, parecida com “contrai doenças”). Passam a compartilhar de todas as alegrias e dissabores da vida de casados (com um mundo voyeur a observá-los). Ao final de poucos meses se separam (em determinados casos, em apenas poucos dias), sem maiores explicações.

Alguns podem achar que isto acontece porque as raízes religiosas dos noivos lhes impedem de simplesmente ficarem juntos sem um cerimonial milionário para sacramentar e divulgar essa união, pois eles encarariam a união sem o ato de se casar como uma obra pecaminosa, pesando em suas consciências. Após o casamento e toda superexposição ocasionada por ele, percebem então o erro que cometeram e resolvem desfazer a união. Isso em alguns casos acontece repetidas e repetidas vezes, em um eterno ciclo de tentativas e erros matrimoniais, que já há muito tempo alimentam a indústria de fuxicos e suas incontáveis mídias e revistas caras.

Para outros, o que existe é a necessidade do casamento como um compromisso, que mesmo não sendo muito duradouro, ao menos servirá para que no momento da perda, haja também os “ganhos”, oriundos da aquisição de parte do patrimônio de seu “ex” cônjuge, e assim os patos de nosso mundo são feitos de patos e acabam pagando o pato, fazendo-nos pensar que para alguns o matrimônio pode fortalecer o patrimônio.

O que assistimos com cada vez mais frequência, são “casamentos” alardeados aos quatro ventos por celebridades, que juram terem encontrado suas almas gêmeas. Dizem que sua união é fruto de um amor lindo como cristal e forte como uma rocha.

Na realidade essas metáforas acabam sendo divulgadas de forma errônea (talvez pela embriaguez causada pela paixão e toda aquela bebida servida nas festas de casamento). O certo seria dizer que essas relações são lindas como uma pedra e fortes como cristal. Ao primeiro choque se quebram em mil pedaços, restando apenas cacos, varridos para baixo da tal pedra que é colocada sobre o assunto.

Realmente estamos em uma época de pessoas apressadas. Mas principalmente agora, uma frase antiga se faz valer como verdade (com um pequeno adendo): “O apressado come cru… Mas paga o preço do assado”.

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ANTONIO BRÁS CONSTANTE é natural de Porto Alegre. Residente em Canoas RS. Bacharel em computação, bancário e cronista de coração, escreve com naturalidade, descontraída e espontaneamente, sobre suas ideias, seus pontos de vista, sobre o panorama que se descortina diferente a cada instante, a nossa frente: a vida. Membro da ACE (Associação Canoense de Escritores).

Fontes:
Enviado pelo autor em 10.03.2013
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

Fantasia científica


É um gênero misto de narrativa que contém alguns elementos de ficção científica e fantasia. Ambos os gêneros e especialmente a fantasia, são eles mesmos mal definidos; consequentemente, a fantasia científica se furta ainda mais a uma definição.

Uma definição apresentada para o gênero é que "a ficção científica faz o implausível possível, enquanto a fantasia científica faz o impossível plausível". O sentido disso é que a ficção científica descreve coisas improváveis que podem ocorrer no mundo real sob certas circunstâncias, enquanto a fantasia científica dá um verniz de realismo a coisas que simplesmente não poderiam acontecer no mundo real, sob nenhuma circunstância.

O problema desta definição é que ela nem depende tanto do que o mundo real é na verdade (sendo o conhecimento humano do que é possível, no máximo, uma aproximação) mas de concepções locais e temporárias sobre com o que o mundo real se parece. De acordo com esta definição, The World Set Free de H.G. Wells era "fantasia científica" em 1913, porque descrevia uma tecnologia não-conhecida naquela época, mas nos anos 1930, quando a fissão nuclear podia ser vislumbrada, o livro tornou-se ficção científica. 

No outro lado da moeda, sob esta definição, muitas das primeiras obras de "ficção científica" como as de Jules Verne, que quando foram escritas planejavam ser extrapolações plausíveis de tecnologias existentes, podem agora serem consideradas "fantasia científica" com base em sua impossibilidade: sabe-se agora que o canhão que lançou o Columbiad em Da Terra à Lua de Verne, é seguramente tão improvável em teoria quanto na prática. Todavia, ele é apresentado com o máximo de seriedade (pseudo)-científica: afinal de contas, não há nada de fantástico com o canhão.

Outro problema é que, usando esta definição, mais da metade de todas as histórias publicadas como "ficção científica" seriam finalmente classificadas como fantasia científica, por empregar pouco mais do que palavreado para explicar aspectos cientificamente implausíveis tais como viagem-mais-rápida-do-que-a-luz, viagem no tempo e poderes paranormais como telepatia.

Para muitos usuários do termo, todavia, o estado corrente do conhecimento sobre o mundo é irrelevante. Para eles, "fantasia científica" é ou uma história de ficção científica (entendida como se queira) que afastou-se tanto da realidade que passa a "parecer" fantasia, ou uma história de fantasia que está tentando ser ficção científica. Enquanto estas são em teoria classificáveis como abordagens diferentes e por conseguinte gêneros diferentes (ficção científica fantástica contra fantasia científica), o produto final é, vez por outra, indistinguível.

O ditado de Arthur C. Clarke  que "qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia" indica porque isto é assim: um autor pode escrever uma fantasia usando magia de vários tipos, e ainda assim transformar a história em ficção científica postulando alguma tecnologia altamente avançada, ou ciência ainda desconhecida mas totalmente provável, como uma explicação de como a magia pode acontecer. Outro escritor pode descrever um mundo futuro onde a tecnologia seja tão avançada que se torne invisível, e seus efeitos poderiam ser classificados como mágicos, se forem somente descritos como tais.

Logo, não há nada intrínseco sobre os efeitos descritos numa dada história que lhe diga se ela é ficção científica ou fantasia. A classificação de um efeito como "fantástico" ou "ciência-ficcional" é uma questão de convenção. Hiperespaço, máquinas do tempo e cientistas são convenções da ficção científica; tapetes voadores, amuletos mágicos e magos são alegorias da fantasia. 

Este é um acidente do desenvolvimento histórico do gênero. Em alguns casos, eles se sobrepõe: teleporte por um raio transmissor de matéria é ficção científica, teleporte por encantamento é fantasia. Um dispositivo portátil de camuflagem que conceda invisibilidade é ficção científica; um Anel do Poder que conceda invisibilidade é fantasia. Comunicação entre mentes pode ser "psiônica" ou pode ser uma antiga arte élfica. O que importa não é o efeito em si mesmo (geralmente cientificamente impossível, embora nem sempre avaliado desta forma pelos autores) mas o universo maior que ele pretende evocar. Se este for de viagens espaciais e pistolas de prótons, é classificado como "ficção científica" e os termos apropriados (dispositivo de camuflagem, transmissor de matéria) são utilizados; se for de castelos, veleiros e espadas, é classificado como "fantasia", e falaremos de anéis mágicos e viagem por encantamento.

Traçar uma linha entre a ficção científica e a fantasia não torna as coisas mais claras pelo fato de que ambos os gêneros usam mundos inventados, criaturas inteligentes não-humanas (por vezes, em FC tanto quanto em fantasia, baseadas em mitos: Shambleau e Yvala de C. L. Moore, por exemplo) e monstros incríveis. 

É em grande parte a palavra do autor que nos diz que os livros da série Narnia de C.S. Lewis se passam num mundo de fantasia em vez de outro planeta, ou que os primeiros livros da série Pern de Anne McCaffrey são de temática extraterrestre e que os "dragões" não são realmente dragões.

Mesmo o arcaísmo, uma das marcas convencionais mais fortes da fantasia, não é uma característica distintiva infalível: um mundo arcaico de armas afiadas e fortalezas com ameias pode ser simplesmente outro planeta que resvalou para a barbárie, ou que nunca emergiu dela. Alguns dos livros de da série Darkover de Marion Zimmer Bradley (como "Rainha da Tempestade", por exemplo), representam tal tipo de mundo completo, com tecnologia indistinguível de magia.

O rótulo popularizou-se depois que muitas histórias de fantasia científica foram publicadas nos pulp magazines, tais como "Magic, Inc." de Robert A. Heinlein, "Slaves of Sleep" de L. Ron Hubbard e a série "Harold Shea" de Fletcher Pratt e L. Sprague de Camp. Todas eram histórias relativamente racionalistas publicadas na revista Unknown de John W. Campbell, Jr., tentativas deliberadas de aplicar as técnicas e atitudes da ficção científica à fantasia tradicional e aos assuntos lendários.

Outras publicações também investiram no gênero. A The Magazine of Fantasy & Science Fiction publicou, entre outras coisas, quase toda a série Operation de Poul Anderson (menos a última parte). Henry Kuttner e C. L. Moore publicaram romances em Startling Stories, juntos e separados. Estes trabalhos estavam estreitamente relacionados com outros feitos para "varejistas" como a Weird Tales, tais como as histórias de "Northwest Smith" escritas por C. L. Moore.

A "Ace Books" publicou uma série de livros como "Fantasia Científica" nos anos 1950 e 1960. Muitos deles, tais como as histórias de Marte escritas por Leigh Brackett, são ainda consideradas como tal. Outras, tais como Conan, o conquistador de Robert E. Howard (assim batizada pelo editor Donald A. Wollheim, e publicada originalmente numa edição "Ace Double", juntamente com Espada de Rhiannon de Brackett) ou os livros da série "Witch World" de Andre Norton, são considerados agora fantasia estrita. Mercedes Lackey discutiu este período em sua recente introdução a uma edição abrangente dos três primeiros livros da série "Witch World"; nos Estados Unidos daquela época, estas eram praticamente as únicas histórias que usavam este rótulo.

As histórias da série "Dying Earth" ("Terra agonizante") de Jack Vance são por vezes classificadas como fantasia científica porque a cosmologia neles utilizada não é compatível com aquela convencionalmente aceite pela ficção científica. 

Outras histórias neste subgênero, tais como os romances Viriconium de M. John Harrison ou "The Book of the New Sun" de Gene Wolfe são geralmente classificadas como fantasia científica.

Os dois últimos filmes pós-apocalípticos da franquia Mad Max de George Miller, enquanto filmes de ação de ficção científica, contem elementos fantásticos à sua representação de um mundo devastado.

O romance planetário, uma história montada principalmente ou totalmente sobre um único planeta e exemplificando seus cenários, povos nativos (caso existentes) e culturas, oferece considerável escopo para a fantasia científica, no sentido da fantasia racionalizada pela referência às convenções da ficção científica.

A Voyage to Arcturus do romancista David Lindsay, publicada em 1920, é um dos exemplos mais antigos deste tipo, embora diferencie-se da maioria de seus congêneres por não assumir um cenário ciência/ficcional de viagem interplanetária ou interestelar; é muito mais um tipo de romance filosófico, o qual usa um planeta alienígena como pano de fundo para a exploração de temas filosóficos. 

Além do Planeta Silencioso de C.S. Lewis (1938), é um exemplo do mesmo tipo de história, embora neste caso as preocupações sejam teológicas. Em ambos os casos, os elementos mágicos são parcamente racionalizados e, no caso de Lewis, permanecem em total contraste com as máquinas pseudo-científicas que enquadram a história.

As histórias da série "Northwest Smith" de C. L. Moore podem ser diretamente classificadas no campo da fantasia/horror, mas utilizam um enquadramento de Space Opera e várias racionalizações pseudocientíficas: deuses e monstros são poderosos alienígenas, por exemplo.

Algumas das histórias de Leigh Brackett passadas em Marte e Vênus podem ser consideradas como fantasia científica, especialmente aquelas que ocorrem em partes distantes e bárbaras dos planetas, tais como People of the Talisman e The Moon that Vanished. Outras histórias passadas no mesmo mundo contém muito mais tropos da ficção científica. Todas as histórias de Brackett implicam que uma explicação racional, científica, para coisas tais como transmissão de pensamentos e a capacidade de criar ilusões visíveis está disponível em algum lugar, mas as explicações são geralmente mais assumidas do que tentadas.

Os romances da série "Duna" de Frank Herbert são também classificados por alguns como fantasia científica, provavelmente porque o planeta Arrakis dispensa a maioria dos (mas não todos) ornamentos tecnológicos que convencionalmente marcam uma história como "ficção científica"; todavia, seus conceitos cientificamente impossíveis (como presciência e memória genética) foram matéria-prima da ficção científica convencional durante muitos anos.

Os romances da série "Pern" de Anne McCaffrey e as histórias sobre Darkover de Marion Zimmer Bradley são muito mais obviamente fantasia científica, principalmente o primeiro por sua escolha do dragão, ícone da fantasia, no centro das histórias, e o último porque o aspecto da mágica racionalizada é um tema dominante. Ambos compartilham o conceito de expedições perdidas e a muito esquecidas, oriundas da Terra, que popularizaram os respectivos planetas e com o passar do tempo, regrediram a um estado de vida quase-medieval.

Alguns exemplos deste tipo de fantasia científica nublam deliberadamente a já vaga distinção entre poderes paranormais da ficção científica e magia; por exemplo, em The Queen of Air and Darkness de Poul Anderson, na qual alienígenas usam poderes psiônicos de ilusão para imitar mitos terrestres de fadas - que são por sua vez tradicionalmente consideradas como ilusionistas mágicas.

Algumas fantasias científicas usam mundos de fantasia com um mínimo de adornos da ficção científica, somente distinguíveis com dificuldade da fantasia padrão. Um exemplo antigo deste tipo é The Worm Ouroboros de Eric Rucker Eddison, cuja história transcorre nominalmente no planeta Mercúrio, mas um Mercúrio que é indistinguível sob qualquer forma de uma Terra de fantasia.

Na série "Witch World" de Andre Norton, o mundo de fantasia é apresentado como sendo parte de um universo paralelo. Existem uns poucos elementos de ficção científica não essenciais nas primeiras histórias desta série, que ficaram ausentes das posteriores.

Os livros da série "Shannara" de Terry Brooks, representam o mundo de fantasia como o futuro distante de uma civilização tecnológica extinta (por conseguinte, compartilhando algumas características com o subgênero da "Terra agonizante").

Normalmente, não se pensa em space opera como sendo fantasia científica, mas alguns exemplos invocam poderes paranormais vagamente explicados ou completamente inexplicados que se aproximam tanto da magia que são considerados por alguns como parte do gênero. Dentre estes, a série Lensman de E. E. Smith e a franquia Star Wars de George Lucas.

Muitos trabalhos de Edgar Rice Burroughs se encaixam nessa categoria, bem como aqueles de seus imitadores tais como Otis Adelbert Kline, Kenneth Bulmer, Lin Carter e John Norman. Eles são preponderantemente classificados como "fantasia científica" por causa da presença de espadas e, geralmente, de um sistema social aristocrático arcaico; os romances de Burroughs, todavia, são céticos em espírito e quase livres de elementos "fantásticos" não-racionalizados.

A mini-série norte-americana de histórias em quadrinhos Camelot 3000, escrita por Mike W. Barr, publicada pela DC Comics entre 1982 e 1985, mostra a Terra do ano 3000 d.C. sendo invadida por alienígenas. Para salvar o planeta, o Rei Artur desperta de seu sono milenar sob o Monte Glastonbury e parte com Merlin na busca dos Cavaleiros da Távola Redonda em suas versões reencarnadas, para cumprir uma profecia que dizia que quando a Inglaterra mais precisasse, seu antigo rei ressurgiria para ajudar. Tanto Merlin quanto Artur fazem uso de magia para enfrentar os invasores, enquanto que os demais Cavaleiros (cujas almas imortais foram despertadas pela visão de um item supostamente mágico) portam pistolas laser e naves espaciais. A própria motivação da trama mistura fantasia e ficção científica, uma vez que a líder dos alienígenas agressores é Morgana Le Fay — Os E.T.s são criaturas altamente tecnológicas controladas pela influência mágica da bruxa Morgana. O filme Krull também cai nesta categoria, uma vez que o filme retrata uma história onde uma criatura alienígena onipotente invade um mundo de fantasia e os protagonistas deve encontrar uma maneira de lutar contra o alienígena.

O gênero de fantasia científica tem alcançado popularidade moderada em anime e mangá. O gênero foi popularizado com Dragon Ball, franquia que mescla elementos de ficção científica, como alienígenas, robôs e alta tecnologia coexistem com conceitos sobrenaturais como deuses, demônios e poderes baseados na manipulação do ki, e atualmente pode ser visto em trabalhos mais recentes tais como Code Geass, Hellsing e Punchline.

Fonte:
Wikipedia . Fantasia Científica.
https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Fantasia_científica&oldid=68578937

30 abril 2025

Asas da Poesia * 20 *


Trova de
PAULO ROBERTO OLIVEIRA CARUSO
Niterói/RJ

Deus criou o mundo inteiro
em seis dias de trabalho;
do Seu suor derradeiro
foi que nos surgiu o orvalho.
= = = = = =

Poema e Trova do Folclore Africano de
MARLY RONDAN
São Paulo/ SP

Ossanha

Ossanha. Orixá das Ervas…
Guarda as folhas na cabaça.
Muitos segredos preservas.
Pões sucos na minha taça…

Orixá das folhas, ervas:
Alecrim, Boldo e Cidrão.
Proteje nossas reservas.
Livra a Terra da agressão.

É o Orixá da cor verde.
Ossanha habita a floresta.
Quem não a conhece perde…
Da Natureza essa Festa!

Senhor - Senhora das folhas,
Comanda as ervas sagradas.
Tira com elixir as falhas…

Elixir que dá vigor.
Protege nossa saúde.
Ossanha cura esta dor!
= = = = = = = = =  

Poema de
SALOMÓN DE LA SELVA
Nicarágua (1893 – 1958)

A bala

A bala que me fira
será bala com alma.
A alma dessa bala
será como seria
a canção de uma rosa
se cantassem as flores
ou o olor de um topázio
se cheirassem as pedras
ou a pele de uma música
se nos fosse possível
as cantigas tocar
desnudas com as mãos.
Se o cérebro me fere
me dirá: Eu buscava
sondar teu pensamento.
E se me fere o peito
me dirá: Eu queria
dizer-te que te quer
= = = = = = 

Soneto de
LUIS VAZ DE CAMÕES
Coimbra/Portugal (1524/25 – 1580)

Soneto 5

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo amor?
= = = = = = = = = 

Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN

Esta distância tão triste,
entre nós dois, na verdade,
mede a distância que existe
entre o amor e a saudade!
= = = = = = 

Poema de
AFONSO SCHMIDT
Cubatão/SP (1860 – 1964) São Paulo/SP

O Poema da Casa Que Não Existe

Onde a cidade acaba em chácaras quietas
e a campina se alarga em sulcados caminhos
achei a solidão amiga dos poetas
numa casa que é ninho, entre todos os ninhos.

Térrea, branquinha, com portadas muito largas,
desse azul português das antiquadas vilas
e uma decoração de laranjas amargas
que perfumam da tarde as aragens tranquilas.

Ergue-se no pendor suave da colina,
escondida por trás dos eucaliptos calmos;
tem jardim, tem pomar, tem horta pequenina,
solar de Liliput que a gente mede aos palmos ...

Neste ponto, a ilusão, a miragem, se some;
olho para você, eu triste, você triste.
Enganei uma boba! O bairro não tem nome,
a estrada não tem sombra, a casa não existe!
= = = = = = 

Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

Com certa preponderância 
eu impus esta verdade:
Quem inventou a distância 
não conhecia a saudade!...
= = = = = = 

Poema de 
AMAURY NICOLINI
Rio de Janeiro/RJ

Onde Estava Você?

Onde estava você quando eu andava
sem um norte pra guiar os meus caminhos
que acabaram em lugar nenhum?
Não tive com quem dividir o meu carinho,
que nas curvas da estrada ao chão deixava
como de traste inútil apenas um.
Onde estava você, que surge agora
com a luz e o esplendor de uma aurora
que promete vida, amor, bonança e sorte?
Você chegou quando eu estou indo embora,
e eu, que tanto esperei por essa hora,
sinto que junto também me chegue a morte.
= = = = = = 

Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/ RS, 1932 – 2013, São Paulo/ SP

Com seu valor aumentado, 
saudade é a restituição 
do que já nos foi cobrado 
pelos sonhos e a ilusão...
= = = = = = 

Hino de
AFOGADOS DE INGAZEIRA/ PE

Terra de sol de encantos mil
Do Pajeú a nobre princesa
De Pernambuco e do Brasil
És do progresso a chama acesa.

O teu nome da lenda surgiu
De um casal que no rio sumiu
Hoje és tu, Afogados da Ingazeira
No Sertão o estandarte de glória
Os teus filhos fizeram história
Que enobrece a nação brasileira.

Brava terra de amor e de luz
Que nasceu sob a sombra da cruz
Grandioso será teu porvir
E abraçado ao símbolo da fé
A lutar sempre firme de pé
O progresso e a riqueza hão de vir.

Na esperança de um mundo melhor
Construindo uma pátria maior
Um teu filho não foge ao dever
Dedicado ao estudo e ao trabalho
Com o livro, o arado ou o malho
A certeza terá de vencer.
= = = = = = 

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/ SP

Escrevo, mas sou discreta, 
me anulo, libero a mente 
e deixo solto o poeta 
que só fala o que ele sente.
= = = = = = 

Poema de 
SYLVIA PLATH
Boston/ EUA (1932 – 1963) Londres/ Inglaterra

Palavras

Golpes
De machado na madeira,
E os ecos!
Ecos que partem
A galope.

A seiva
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
Sobre a rocha

Que cai e rola,
Crânio branco
Comido pelas ervas.
Anos depois, na estrada,
Encontro

Essas palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.
= = = = = = = = =  

Trova de
GERALDO PIMENTA DE MORAES
São Sebastião do Paraíso/MG (1913 – 1997) Passos/MG

Saudade é livro à distância,
que o tempo vive escrevendo,
enquanto a gente, com ânsia,
de olhos fechados, vai lendo…
= = = = = = = = =

Quadra Popular

Não penses que pela ausência
eu de ti me hei de esquecer;
quanto mais longe estiver,
mais firme te hei de ser.
= = = = = = = = =  

Soneto de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Só se chora por quem parte
 
Choremos por quem parte sem voltar
A ser presença viva à nossa mesa
E desse imenso reino da tristeza
Desça à terra num raio de luar.

Ausente, para sempre, em nosso olhar
Terá em nosso peito a fortaleza
Que guarda a delicada vela acesa
Da memória que brilha em seu altar.

De saudade será a sua imagem
Que se esvai como um barco na viagem
No denso nevoeiro, rumo ao norte.

Só quando a sua face tão inteira
Não nos assomar, sem que a gente queira
Só então foi levada pela morte.
= = = = = = = = =  

Glosa de
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Nossa guerra de amor...

MOTE:
Ah, o amor...O amor fascina,
quando na cama o combate
triunfalmente termina
num belo e gostoso empate!
A. A. de Assis
(Maringá/PR)

GLOSA:
Ah, o amor...O amor fascina!
Sempre tontos de emoção,
estouram, a adrenalina,
nossos beijos de paixão!

É quase uma guerra fria,
quando na cama o combate
usa as armas da euforia
e com elas se debate!

Com gemidos em surdina
a guerra do amor se faz...
Triunfalmente termina
na calmaria da paz!

Nessa luta incontrolada,
ninguém exige resgate,
e ela é sempre terminada,
num belo e gostoso empate!
= = = = = = = = =  

Haicai de
WAGNER MARQUES LOPES
Pedro Leopoldo/MG

Passa o tempo frio.
É pé... Mais pé de aguapé
que acoberta o rio.
= = = = = = = = =  

Soneto de
RAIMUNDO CORREIA
Cururupu/MA, 1860 – 1911, Paris/França

Fim de comédia

O pano sobe, e o povo, satisfeito,
Aplaude a farsa, e ao riso não resiste;
“Gosta um moço da filha de um sujeito,
E este não quer que a filha case; ao triste

No fundo do jardim promete a amante
Um rendez-vous, longe do pai tirano;
Mas pilha o velho o escândalo flagrante,
E ambos vão casar-se… e cai o pano.”

Dizem os velhos que o teatro ensina.
Então tu podes sem pesar, menina,
Seguir este conselho: solta a rédea

Deste amor, que é o meu e o teu tormento,
Que há de a nossa comédia em casamento
Findar, como findou a tal comédia.
= = = = = = = = =  

Aldravia de
AMÉLIA LUZ
Pirapetinga/MG

Fui
linha
e
ponto
tecendo
remendo
= = = = = = = = =  

Martelo Agalopado, de
MARCO HAURÉLIO 
Riacho de Santana/BA

Galopando o cavalo pensamento 
(duas estrofes de cordel)

A Senhora dos Túmulos observa 
O vaivém da tacanha mocidade,
Que despreza a virtude e a verdade
E dos vícios se mostra fiel serva,
Porém nada no mundo se conserva:
Sendo a vida infindo movimento,
É a Morte um novo nascimento
A inveja é o túmulo dos vivos —
O herói repudia esses cativos,
Galopando o Cavalo Pensamento.

Das trombetas ecoam novo som,
O tinido das armas me atordoam,
O rufar de tambores longe soam,
Destruindo o último Panteon
Será esse sinal o Armagedon?
Ou apenas mais um renascimento
De um ciclo que traz o advento
Duma aurora de brilho sem igual,
Sem início, sem meio e sem final,
Galopando o cavalo pensamento.
= = = = = = = = =  

Epigrama de
ROBERTO CORREIA
Salvador/BA, 1876 – 1937

Burro, a cegueira da sorte
Elevou-te e, ao sol, espelhas
Mas guardas o mesmo porte
E as mesmíssimas orelhas.
= = = = = = = = =  

Soneto de
ARTUR DE AZEVEDO
São Luis/MA, 1855 – 1908, Rio de Janeiro/RJ

Tertuliano, o paspalhão

Tertuliano, frívolo peralta,
Que foi um paspalhão desde fedelho,
Tipo incapaz de ouvir um bom conselho,
Tipo que, morto, não faria falta;

Lá um dia deixou de andar à malta
E, indo à casa do pai, honrado velho,
A sós na sala, diante de um espelho,
À própria imagem disse em voz bem alta:

— Tertuliano, és um rapaz formoso!
És simpático, és rico, és talentoso!
Que mais no mundo se te faz preciso?

Penetrando na sala, o pai sisudo,
Que por trás da cortina ouvira tudo,
Severamente respondeu: — Juízo!
= = = = = = = = =  

Poema de
ROBERTO PINHEIRO ACRUCHE
São Francisco de Itabapoana/RJ

Quem sou eu

Eu sou um caso,
um ocaso!
Eu sou um ser,
sem saber quem ser!
Eu sou uma esperança,
sem forças!
Eu sou energia,
ora cansada!
Eu sou um velho,
ora criança!
Eu sou um moço,
ora velho!
Eu sou uma luz,
ora apagada!
Eu sou tudo,
não sou nada!
= = = = = = = = =  

Soneto de
EDMAR JAPIASSÚ MAIA
Miguel Couto/RJ

A missa do compadre 

Ia vivendo meio aposentado, 
celibatário que era por vontade, 
por ter sofrido, em plena mocidade, 
uma desilusão de amor frustrado… 

Porém, um dia, foi comunicado 
da morte do compadre na cidade, 
e este fato lhe trouxe, na verdade, 
a esperança deixada no passado… 

O infausto passamento deu-lhe o ensejo 
de sentir despertado um só desejo, 
que trazia no peito adormecido… 

E foi durante a missa do compadre, 
que, amparando em seus braços a comadre, 
baixinho, agradeceu ao falecido!
= = = = = = = = =  

Trova de
ALEXANDRE RODRIGUES FERNANDES
Vila Nova de Gaia/Portugal

Quem me dera ser quem era,
em vez daquilo que sou...
Voltas sempre, primavera.
Minha infância... não voltou!
= = = = = = = = =  

Poema de
VITÓRIO NEMÉSIO
Ilha Terceira/Açores, 1901 – 1978, Lisboa/Portugal

A concha

A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fechada de marés, a sonhos e a lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.
Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.
E telhados de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta pelo vento, as salas frias.
A minha casa... Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.
= = = = = = = = =  

Quadra Popular

Hoje não venhas tarde
Dizes-me tu com carinho
Ou compras um relógio novo
Ou amanhã vai de carrinho.
= = = = = = = = =  

Décima de
JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

Até parecem mentira
Certas coisas deste mundo:
Numa fração de segundo
A roda do tempo gira;
Um instante se retira,
Outro pula no tablado;
O tempo é tão apressado
Que passa pisando a gente…
Futuro é quase presente,
Presente é quase passado.
= = = = = = = = = 

Asas da Poesia * 46 *

Poema de LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE Pinhalão/PR Tuas Mãos "Tua mão esquerda está sob minha cabeça, e tua direita abraça-me " (Ct.8....