06 julho 2025

Franklin Ras Lopes (Esboço: A força dos medos e desejos)


“Sou contraditório por que sou vasto”
Walt Whitman

A fria e afiada lâmina da razão corta o meu coração contraditório. O meu coração tem ímpetos naturais e contraditórios como ondas feitas de medo e desejo. A proximidade gera atritos, questionamentos sobre a minha liberdade e o afastamento natural vêm através de desavenças. Este afastamento gera o desejo de proximidade, de estreitar os laços e o ciclo continua.

O grande poeta e filósofo alemão Nietzsche dizia “cuidado ao tirar o pior de você, para que junto com ele você não tire também o seu melhor”. Sim meus caros leitores as rosas e o espinhos estão ligados. E a poesia nos diz “ O medo de espinho o desejo de flor, a tensão da roseira é a beleza em vigor, em meios a estas pedras a beleza chegou.” (Franklin Ras Lopes)… Se negarmos a tensão natural entre os opostos, perdemos a beleza, perdemos o melhor de nossas vidas.

As crianças quando brigam resolvem isto facilmente, não é necessário interferência Eles darão o dedinho e tudo continuará, os laços serão mais fortes, os irmãos serão mais amigos quando a maturidade chegar. O amor não pode ser imposto, ele surge da tensão entre os opostos, ele é um processo natural e por isto surge através da liberdade de aprendermos com os altos e baixos de nossas vidas. Negar, cortar um é negar, cortar o outro, e a mornidão gerada desta forma de agir, de nenhuma forma é a ponderação ou o caminho do meio dos sábios.

Li um relato há muito tempo do místico Hassid, que me esqueci o nome e não consegui encontrar referências em minha pesquisa. Mas vale a pena comentar a explicação que ele deu a respeito da luminosidade surgida de alguém que a todos consideravam um grande devasso, um pecador, ele disse - “Quanto maior o pecador maior o santo” E particularmente acredito que não existem mais santos sobre a terra, porquê as pessoas constroem casas em cima da areia, constroem na verdade uma personalidade, aquilo que não são.. Tentam e acreditam serem maiores do que são e não trabalham onde realmente estão. A rocha firme para fazer nossos alicerces, estão nos processos associados aos nossos medos e desejos, no medo de não sermos amado que gera ciúmes, invejas, rancores, raivas, geram julgamentos capitais que servem apenas para amparar o nosso ego, em meio a esta vastidão.

Somente um rebelde, somente um homem que foi ao deserto e enfrentou seus medos e desejos mais profundos podem proclamar e instigar a liberdade como fez Jesus na parábola do filho pródigo. Ele incentiva as pessoas a se aventurarem, a serem errantes, a experimentarem com seus próprios olhos, a vida. Não existe outra forma de poder andar sem ser caindo e se levantando, ficando forte para andar sem andador ou muletas. E quando um errante voltar à casa do pai, a sua origem, ele voltará completamente transformado, pois estará fazendo os laços porque quer, estará se prendendo por gosto. A meu ver, uma grande liberdade que surge em quem ama.

Obviamente existirão ciúmes por parte de quem ficou, daquele que seguiu os preceitos e nunca abandonou as regras da sociedade, pois a verdade da presença luminosa daquele que voltou trará uma festa, uma alegria que ele creditará ser o seu direito. Ele se sentirá injustiçado apenas por que se esqueceu que nós estamos aqui para aprender os caminhos da confiança, e o norte deste caminho é o amor.

Particularmente eu demorei muito a reconhecer o vasto pântano de homens que não sabem nem sair e nem entrar, demorei muito a olhar pra cima e ver a tabuleta que dizia - pântano do ser e do não ser. Nós não somos, nós estamos num fluxo contínuo feito de polaridades como o dia e a noite. A crença no pântano impede a aventura do vir a ser, impede o fluxo natural de aceitação da polaridade de nossas vidas, o reconhecimento que temos que estar atentos, sermos testemunha de nós mesmos e assim mudarmos com a delicadeza e a tendência que quer a amorosidade.

A liberdade para encontramos a nossa essência, não é a mesma coisa que libertinagem. O processo tem de ser consciente, tem de ser intenso, um verdadeiro ato corajoso ou como diria o poeta Fernando Pessoa “sabendo viver bem saberemos navegar com todos os ventos”. Com estas considerações acredito que quando Walt Whitman disse “sou contraditório por que sou vasto” de forma nenhum estava se eximindo ou fugindo, eu pude sentir nestas palavras a afirmação da sua própria vida, do seu próprio processo de sanidade e não da paranoia que corta e dilacera o nosso natural coração contraditório.

Assim, em verdade, eu vos digo, meus caros, o meu amor quebra taças, gera silêncio e é muito carinhoso, o meu amor é delicado e esta delicadeza é fonte de asperezas, o meu amor é atento e dedicado e isto é a fonte do meu desejo de liberdade, o meu amor não é meu e me deixa inseguro, o meu amor existe com dois espinhos para exigir a atenção do outro, o meu amor quer o voo e quer a liberdade de estar junto, porque queremos, o meu amor nem eu entendo, mas uma coisa eu sei, ele é frágil e precioso, pois sem medo e sem desejo não existe possibilidades de ir além.

Assim me ergo em oração: Deus afastai de mim os homens de moral, afastai de mim estes seres que pouco sabem da vida, mas querem encher meu coração de culpa, afastai de mim estes seres que massageiam os pés, mas logo chegam a agarrar o pescoço, Deus, afastai de mim estes imaturos papagaios, afastai de mim estes seres que porventura irão vir morder o meu dedo, ao invés de ver a lua clara na noite escura, para somente assim poder dizer com o meu próprio peito, eu sou um bem aventurado, eu sou um filho de Deus. 

Paz e prosperidade a todos.
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Franklin Rodolfo Aguiar Silveira (Ras) Lopes é de Piracicaba/SP, possui graduação em Oceanologia pela Universidade Federal do Rio Grande (1998), mestrado em Aquicultura pela Universidade Federal de Santa Catarina (2002) e doutorado em ciências pela Universidade de São Paulo (CENA-USP) (2008) .

Fontes:
Texto enviado pelo autor. 
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

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