Na praça central de Velharruda, Arlindo e Eulália estavam novamente em seu banco, prontos para mais uma discussão acalorada. Desta vez, o assunto era a tecnologia moderna, especialmente os smartphones.
— Você viu, Arlindo? — começou Eulália, balançando a cabeça. — As pessoas estão tão grudadas nesses smartphones que parecem zumbis! Não conseguem nem olhar para o lado!
— Zumbis, realmente! — Arlindo concordou, fazendo uma careta. — No meu tempo, a gente conversava cara a cara! Agora, tudo é emoji e mensagens de texto! Que tipo de comunicação é essa?
— E o pior é que não sabem nem escrever! — Eulália exclamou. — Você já viu as mensagens? “Vc é mt legal” e “bjs”! Onde foi parar o português?
— Ah, o português! — Arlindo riu, balançando a cabeça. — Eu estava lendo um livro, e a autora escreveu “k” em vez de “que”! Se fosse no meu tempo, ela teria sido expulsa da escola!
— E agora, se você não estiver nas redes sociais, é como se não existisse! — Eulália continuou, indignada. — O que aconteceu com a privacidade? Ninguém mais sabe o que é isso!
— Exato! — Arlindo concordou. — No meu tempo, a gente contava os segredos para os amigos, não para um aplicativo que pode ser raqueado! Malditos celulares!
— E você percebeu que as crianças não brincam mais na rua? — Eulália disse, gesticulando. — Elas ficam trancadas em casa, jogando e olhando para a tela! Eu não sei como eles conseguem!
— Pois é! — Arlindo concordou, com um sorriso irônico. — Eu costumava ficar horas jogando bola, não “jogando” só no celular! Se eu tivesse um celular na minha infância, acho que teria esquecido até como andar!
— E se você tivesse um smartphone na sua juventude, Arlindo? — Eulália perguntou, divertida. — Você teria tirado fotos do seu famoso “passo do relógio” e postado na internet? “Olha como eu danço, pessoal!”
— Ah, para com isso! — Arlindo riu. — Eu seria uma sensação! Mas, pensando bem, você teria sido a primeira a comentar: “Arlindo, isso é um desastre!”
— Eu só estaria sendo honesta! — Eulália defendeu-se, com uma risada. — E você sabe que eu teria razão!
— E quem precisa de razão quando se tem um smartphone? — Arlindo disse, sarcástico. — Hoje em dia, a verdade é o que mais se “curte”!
— E não me fale dos vídeos! — Eulália exclamou. — Todo mundo quer ser “influencer”! Você já viu como eles se comportam? Fazem dancinhas ridículas e acham que são artistas!
— E o que você prefere? — Arlindo provocou. — Um vídeo de dancinha ou ouvir você cantar “Asa Branca” no karaokê?
— Ah, você sabe que eu canto bem! — Eulália respondeu, rindo. — Mas se eu fosse uma influencer, eu teria mais fãs!
— Isso se eles soubessem o que é um karaokê! — Arlindo disparou. — Dificilmente alguém hoje em dia saberia o que é se divertir sem uma tela na frente!
— E você já reparou que eles não conseguem ficar sem seus telefones por um minuto? — Eulália continuou. — Se você pedir para alguém desligar o celular, é como se pedisse para desligar a vida!
— Pois é! — Arlindo completou, balançando a cabeça em reprovação. — No meu tempo, a gente ficava horas sem precisar de nada além de uma boa conversa!
— E uma boa xícara de café! — Eulália acrescentou, com um brilho nos olhos. — Ah, como eu sinto falta das nossas conversas longas e do cheiro do café fresco!
— Então, vamos fazer isso! — Arlindo sugeriu, com um sorriso. — Vamos deixar esses smartphones de lado e tomar um café de verdade!
— Combinado! — Eulália concordou, animada. — E quem sabe, se tivermos sorte, não encontramos um zumbi ou outro pelo caminho!
Os dois velhos rabugentos riram, levantaram-se do banco e caminharam juntos em direção à cafeteria, prontos para celebrar a amizade e as boas conversas, longe das telas e da tecnologia moderna.
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JOSÉ FELDMAN nasceu na capital de São Paulo. Poeta, trovador, escritor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Casado em 1994 com a escritora, poetisa, tradutora e professora da UEM, Alba Krishna, mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, e depois em Maringá/PR desde 2011. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria, Voo da Gralha Azul e Gralha Azul Trovadoresca. Assina seus escritos por Floresta/PR. Publicou de sua autoria 4 ebooks.. Dezenas de premiações em poesias e trovas no Brasil e exterior.
Fontes:
José Feldman. Pérgola de Textos. Floresta/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
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