Tudo se inicia no texto. Na realidade tudo se inicia no pensamento do autor. O autor tem uma idéia, pensa sobre essa idéia, formula questões, analisa possibilidades e constrói uma trama pensando na figura do ator. Sem um texto, o ator não pode criar nada, assim como sem o ator o autor não verá sua obra representada. Ambos são criadores. Um da sua própria obra e outro da visão, do entendimento da obra alheia.
É fundamental ao ator que tenha a consciência de que ao se utilizar das palavras do autor a sua função é transformá-las em impressões. Em impressões para os espectadores. Na mesma medida em que ao ator cabe a transformação das palavras do autor em impressões, cabe-lhe também ocultar o homem por trás de si apresentando apenas a personagem, sua ação e a fala.
A relação entre esses dois ofícios é muito próxima uma vez que ambos, autor e ator, iniciam seus trabalhos através de pesquisas e ambos doam seus espaços internos às figuras desconhecidas, irreais. O primeiro interlocutor do autor é o ator enquanto o do ator é o público. E mesmo sendo obra do autor a que está sendo apresentada pelo ator, passa a ser de sua autoria também a concepção, a leitura do que apresenta. É como se dentro do universo do autor o ator criasse a sua melhor maneira de dizer aquilo que se quis dizer.
Sendo também um criador, o ator fica muito mais completo uma vez que deixa de ser mera marionete para oferecer ao universo do autor seus pontos de vista e suas experiências de vida a respeito da personagem em questão. Há sempre o que aprender; o que observar de um outro ângulo. E por isso é fundamental que as duas pontas criadoras estejam sempre em sintonia e que ambas compreendam o que a outra quer falar.
Há uma corrente que diz que o autor é uma ferramenta social e que sua função é tornar a vida das pessoas menos dolorosa, é trazer um pouco de esperança para o mundo, é fazer com que os conflitos sejam expostos de modo não tão duro como a vida expõe. É uma corrente com razão. De fato essa é a função do autor. Há no ofício da escrita essa função social. E há também a mesma função no ofício do ator. E de uma maneira muito mais visível quando se trata de obra teatral, televisiva ou cinematográfica.
Por essa razão é mais que urgente que os atores jovens tenham a compreensão de que suas bases profissionais e emocionais sejam construídas sobre alicerces concretos para que possam levar seus discursos adiante de maneira digna. Essa consciência fará do ator um ator muito mais amplo, mas profundo e com mais responsabilidade em seu ofício.
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Alex Giostri é paranaense. Mudou-se para São Paulo, ainda criança. Viveu no Rio de Janeiro (1996-2008) e retornou a São Paulo. Formou-se em Cinema, fez algumas pós-graduações, e também inúmeros cursos profissionalizantes, colaborador de jornais impressos, como Jornal do Brasil e Tribuna da Imprensa, trabalhou como diretor de filmes publicitários. Idealizou e coordenou o Projeto Novo Autor (2004) - projeto de fomentação dramatúrgica que apresentou autores, atores e diretores teatrais para a sociedade carioca. Idealizou seu próprio selo editorial Giostri, em 2005, no Rio de Janeiro. Logo ampliou os trabalhos e apresentou ao mercado o selo RAG e o selo infantil Giostrinho, todos da Giostri Editora Ltda. (giostrieditora.com.br). Em 2007, publicou o livro “Meninos”, com treze contos. Teve dois livros utilizados como bibliografia básica em dezenas de Universidades no país até hoje: Seis ferramentas para a construção de um texto e Do pensamento para o papel. Até 2018 teve 13 obras escritas de sua autoria e 7 obras que organizou, além das mais de 1.000 que atuou como editor responsável. Em 2008, o foco foi para o universo das relações ao publicar Afeto, Amor e Fantasia, um livro voltado às pessoas interessadas em saber mais sobre o universo das relações. Na dramaturgia, Alex foi premiado nacionalmente em um concurso de dramaturgia no ano de 2005 com um de seus textos autorais, Quase, que fala sobre a solidão do Natal. Alex tem uma obra teatral com quatorze textos autorais e duas adaptações de obras literárias. Como roteirista, escreveu roteiros de curtas e longas-metragens, todos em captação de recursos. Além de séries e seriados que possui, todos escaletados. Atuou por conta própria em algumas ONGS, empresas, Secretarias de Cultura e Educação. Desde 2015 está à frente da Oficina literária - A Formação do EU, nas dependências da Penitenciária Industrial de Joinville - SC, onde idealizou e coordena toda a ação, que privilegia apenados e constrói, a partir da criação, uma nova maneira de pensar e conviver com a vida em cárcere. Obteve um prêmio nacional, pelo Instituto Pró-livro, como fomentador de cultura e cadeia produtiva e foi consultor editorial do livro que se intitulou A didática no cárcere, obra essa publicada pela Giostri em 2017.
Fonte:
http://www.alexgiostri.com.br/ 02.12.2009
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