Poema de
LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE
Pinhalão/PR
Tuas Mãos
"Tua mão esquerda está sob minha cabeça,
e tua direita abraça-me " (Ct.8.3)
Ó suaves mãos, mãos afeiçoadas,
De puros gestos, carinhosas;
Ó níveas mãos, mãos abençoadas,
Que coisa as fez assim formosas?
Macia palma, aveludada,
O dorso - cheio de expressão...
O que será tem de encantada
A placidez da tua mão?
E brandamente com ternura,
Amigas mãos, quentes, me vêm;
Não é paixão, não é loucura,
Mas as tuas mãos - o que elas têm?
Volvem pra mim alegremente,
Como se, então, me dessem um beijo;
E no tanger mais complacente,
Com grande afeto eu sempre as vejo.
Mesmo de frágil compleição,
Fazem-me forte qual gigante;
Quanta magia em cada mão!
Por elas só, vou sempre avante.
Na branca palma da tua mão,
Soletro as sílabas da vida;
Eu vejo um "M" com paixão
- Centro do amor é a letra lida.
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Trova de
CÉSAR SOVINSKI
(César Augusto Ribas Sovinski)
Curitiba/PR
O mentiroso sultão
com seu harém de donzelas.
— Durmo com todas, irmão.
— Só dorme – diz uma delas.
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Poema de
MARIO QUINTANA
Alegrete/RS, 1906 – 1994, Porto Alegre/RS
Data e dedicatória
Teus poemas, não os dates nunca... Um poema
Não pertence ao Tempo... Em seu país estranho
Se existe hora, é sempre a hora extrema
Quando o Anjo Azrael nos estende ao sedento
Lábio o cálice inextinguível...
O que tu fazes hoje é o mesmo poema
Que fizeste em menino,
É o mesmo que,
Depois que tu te fores,
Alguém lerá baixinho e comovidamente,
A vivê-lo de novo...
A esse alguém,
Que talvez nem tenha ainda nascido,
Dedica, pois, teus poemas,
Não os date, porém:
As almas não entendem disso…
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Aldravia de
LUIZ GONDIM
Rio de Janeiro/RJ
quero
vestir
tua
noite
despindo
censuras
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Soneto de
EMÍLIO DE MENESES
(Emílio Nunes Correia de Meneses
Curitiba/PR, 1866 – 1918, Rio de Janeiro/RJ
Numa lápide
Qual se teu filho fora, eu me acabrunho
E, de mágoa, a falar-te mal me atrevo.
Aceita, entanto, o humilde testemunho
De quanto foste meu sagrado enlevo.
Fosse-me dado, de cinzel em punho,
Talhar o liso mármore em relevo,
E eu daria da pedra o eterno cunho
Às estrofes que em pranto e sangue escrevo:
Sei que não cabem nestes sons dispersos
O pranto em que esta angústia não se acalma,
E o sangue em que tais sons morrem imersos.
Não cabe dentro de votiva palma
Nem na estreiteza de mesquinhos versos
O infinito de dor que tenho na alma.
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Trova de
JERSON LIMA DE BRITO
Porto Velho/RO
Não tema sua jornada
se o céu estiver cinzento
que às vezes a trovoada
faz parte do ensinamento!
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Poema de
JOSÉ CARLOS MOUTINHO
Maia/Portugal
Murmúrios distantes
Sufocam-me os dias do meu estar,
Aperta-se-me o peito angustiado pelo nada;
Solta-se-me um grito estrangulado
Que voa, pelos vales da esperança,
E é a tua voz, que no eco, me responde,
Palavras de amor e arrependimento;
Mas estão longe, muito longe,
E chegam-me num murmúrio…
Perdem-se na distância dos erros cometidos
E momentos sofridos,
Que nem os místicos luares sararam;
Tampouco as estrelas que nos iluminavam,
Te mostraram a luz do nosso caminho;
Desperdiçaste a felicidade que se te oferecia,
De um coração aberto e uma alma transbordante,
De alegria constante!
Recusaste o sol que aqueceria a tua frieza,
Renegaste até os perfumes que a natureza,
Te colocou na floreira da tua vida,
Na forma de belas rosas vermelhas,
Oferecidas em instantes de êxtase
Agora o Universo gira num desatino,
Descontrolado pela razão da inconsciência,
Que me leva a uma irônica saudade,
Que não faz mais sentido,
Metamorfoseada por outras razões.
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Quadra popular
AUTOR ANÔNIMO
Tristes ais, negras saudades,
não me mates de repente,
que para matar só basta
o meu bem viver ausente.
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Soneto de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/Portugal
Sinto o sangue gelar-se-me nas veias
(José Barreto, in "Cânticos de Paixão e Outras Cores", p, 24)
Sinto o sangue gelar-se-me nas veias
Quando no peito morre uma esperança
Ou se solta um cabelo de uma trança
Onde o ouro brilhava sem ter peias;
E quando a luz que havia nas ideias
Se extingue sem deixar qualquer herança
Que no futuro seja uma lembrança
Dos povos que cantaram epopeias.
E o meu corpo minado pelo frio
Ganha a dureza gélida de um rio
A que os polos dão alma de glaciar.
Sou branca massa de água deslizando
Que sobe um mar de mágoa abominando
Onde eu não sou capaz de me afogar.
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Trova de
JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR
O que me deixa grilado,
é nunca saber jamais,
com dois amigos ao lado,
qual deles que mente mais.
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Soneto Decassílabo Heroico de
ODAIR CABEÇA DE POETA
Fortaleza/CE
Soneto à mulher
Mulher, te vejo pura, qual criança
Revelando o amor todos os dias,
E ao contemplar estrelas, que alegria!
Eu sinto a tua essência, da esperança.
Mulher és, mais que tudo, temperança,
Ao compartilhar dores com os amigos,
És vício bom, um drible no perigo,
És emoção, és riso, boas lembranças.
O amor, em sua estrutura, é o pilar...
Uma carícia amiga, um despertar
Uma alma, prenhe de paixão, feliz,
E em seu espírito livre, sem ardis
Em meio a tantas pétalas, uma flor
És coração que explode em amor!
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Triverso de
ÁLVARO POSSELT
Curitiba/PR
A vida não tem fim
Entre túmulos e flores
uma caveira acenou pra mim
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Soneto de
MARIA EUGÊNIA CELSO
(Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça)
São João del Rey/MG, 1890 – 1963, Rio de Janeiro/RJ
Mudança
Li no jornal teu casamento… Um instante
Sinceramente a humana espécie odiei,
Do mundo o horror se me tornou flagrante
E do planeta desertar sonhei.
Veio depois a reflexão calmante…
Do esquecimento obedecendo à lei
– De ti se fez me coração distante,
Com a vida e os homens me reconciliei.
Passou-se um mês… Hoje encontrei-te… O espanto
Fez-me um segundo emudecer, no entanto
Minh’alma logo te reconheceu.
Eras tu mesmo… mas diminuído,
Diverso, feio, gordo, envelhecido.
Mudaste acaso ou mudaria eu?
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Trova de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo/SP
O mentiroso pensou
ter enganado a donzela...
Por interesse casou,
mas quem o enganou, foi ela!
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Poema de
MARIA EVAN GOMES BESSA
Fortaleza/CE
Praia de Iracema
Águas revoltas na ponte metálica
E o mar de um verde estonteante
Brinca com o vento em ondas
Que agitam turistas e visitantes.
A linguagem do mar é envolvente
Seduz a todos com seu simbolismo
E se traduz em falas misteriosas
Que inspiram ou provocam imobilismo.
Quantas histórias e vidas se passaram
Naquela praia de mares bravios,
Onde os poetas e boêmios viram
Guerreiros deslizarem em seus navios.
E a índia Iracema a correr na areia
Branca, esbelta, de pés descalços,
À espera do Guerreiro vive ainda
No inconsciente coletivo do povo.
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Epigrama de
VICTOR CARUSO
Campinas/SP
A um matemático
Jaz aqui um matemático.
Se dele queres saber
Pede à história que te diga:
Sendo do cálculo amador fanático
Teve para morrer um meio prático
E resolveu morrer
De cálculos na bexiga…
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Glosa de
NEMÉSIO PRATA
Fortaleza/CE
MOTE:
Tantas noites mal dormidas:
tantos dias mal passados,
tantas lágrimas vertidas,
por amores fracassados!
JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR
GLOSA:
Tantas noites mal dormidas:
só insônia e pesadelos;
nestas horas tão sofridas
sinto a falta de seus zelos!
Não sei se vou suportar
tantos dias mal passados,
sem um dia eu derramar
soluços desesperados!
Dos meus olhos, incontidas,
fruto da saudade, são
tantas lágrimas vertidas,
que secou meu coração!
Nas noites, sem ter o encanto
de te ter em meus brocados,
vou chorar meu desencanto
por amores fracassados!
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Trova de
A. A. DE ASSIS
(Antonio Augusto de Assis)
Maringá/PR
O céu manda a trovoada
avisar que a chuva vem.
– Venha logo... e, abençoada,
traga a fartura também!
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Soneto Alexandrino de
THALMA TAVARES
(Vicente Liles de Araújo Pereira)
São Simão/SP
A um jovem suicida
Pela porta entreaberta o velho pai assoma.
Olha triste, em silêncio, a família e a casa.
E em soluços explode a dor que ele não doma,
o mal contido pranto, a lágrima que abrasa.
A todos, de um só golpe, o sofrimento arrasa.
Inconsolável mágoa a casa inteira toma.
Parece que a tristeza, enfim, deitou sua asa
sobre um lar onde a paz era único idioma.
Tempos depois passou a dor e o desconforto.
Mas do pai, que abraçou um dia o filho morto,
como eterno castigo a dor não se apartou.
Ficou-lhe na lembrança – e pela vida inteira –
a débil voz do filho e a queixa derradeira:
- Estou morrendo, pai!... A droga me matou!
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Trova de
EVA YANNI GARCIA
Caicó/RN
Desponta sereno o dia,
e o meu sonho, sem demora,
enche o mundo de poesia
ao romper da linda aurora!
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Poema de
ELISA ALDERANI
Ribeirão Preto/SP
Tempos da infância
No tempo de minha infância,
longe da cidade vivia.
Minha casinha era pobre e pequena,
no verde dos campos sumia...
Milho e pastagem eram exuberantes.
Tinha uma estrada de terra batida,
onde sempre passavam os carros
puxados de dois bois, ofegantes.
Para ir até a escola,
talvez uma carona pegava.
Achava demais divertido
o balanço das rodas fazendo ruído.
Na volta, já de tardezinha
a mãe mandava buscar leite de vaca
no camponês que morava
na casa pequena, ao lado da minha.
Eu esperava ansiosa,
olhando curiosa a vaca leiteira,
que com os pés amarados
mexia o rabo, nervosa.
Maria, a camponesa,
usava saia preta e comprida.
Sentada numa cadeirinha,
com muito cuidado mungia.
Depois, o balde levava
e, devagar o leite ela coava.
Enchia uma xícara,
ainda lembro que era de cor verde,
e com carinho me oferecia.
O cálido leite quentinho
com a espuminha por cima
tinha sabor de carinho, e
matava a fome que tinha!
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Poetrix de
SUELY BRAGA
Osório/RS
O vento
Baila o vento.
Sacode as cabeleiras das árvores.
Os pássaros recolhem-se do relento.
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Soneto de
RITA MOUTINHO
Rio de Janeiro/RJ
Soneto do provérbio
Depois da temporada de enlevo,
retorno à condição de submarino.
Ficarei mergulhada, sem relevo,
embalando o silêncio de ser sino.
Sinos só soam em horas muito raras.
São, é certo, instrumentos solitários,
mas plenos, mais plenos que as claras
orquestras que iluminam os cenários.
No recato da sombra, vou vivendo,
sem saber quando o lume se desnubla,
diversa de Penélope, escrevendo.
Sua grande atriz brilha no mundo,
nos bastidores, sou a chã que dubla,
mas, no escuro, o cintilo é mais profundo.
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Trova de
CLÁUDIO DE CÁPUA
São Paulo/SP, 1945 – 2021, Santos/SP
Eu adoro essas quadrinhas,
têm métrica, rima e tema...
A trova, com quatro linhas,
tem a amplidão de um poema.
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Poema de
JAIME VIEIRA
Maringá/PR
Curvatura
As estrelas se derramam no céu
mesmo quando, sob o peso dos anos,
não se olha mais para cima,
em busca de uma ilusão…
Envelhecidos os olhos,
a limitação humana
com as costas encurvadas
procura em poças d´água
o brilho das estrelas
refletidas no chão…
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Trova de
ANTONIO JURACI SIQUEIRA
Belém/PA
O homem sofre ante os impulsos
das religiões e das ciências
pois pior que algemar pulsos,
é agrilhoar consciências!…
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Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Doces lembranças
A rua principal era uma antiga estrada
Que conduzia ao Rio as produções paulistas.
E em caminhões de carga os xucros motoristas
De quando em vez passavam em louca disparada.
Em meio ao poeirão e à falta de outras pistas,
A molecada armava ali sua “pelada”...
E nos degraus de pedra à beira da calçada,
Mocinhas fomentavam as poses dos ciclistas...
A rua-estrada era o centro da cidade!
Pois nela se alinhavam a venda, o bar, a Igreja,
A Santa Casa, a escola, o clube e... na verdade,
Casebres onde aranhas punham suas teias...
Mas seu saudoso “footing”... Por mais não seja,
Me corta o coração por ter deixado Areias...
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